Um pensador subjetivo

Um pensador subjetivo
Søren Kierkegaard em um café, de Christian Olavius Zeuthen, 1843 (Arte Revista Cult)
  Thomas Mann, em seu romance Dr. Fausto, descreve a personagem principal, um compositor genial, sentado à frente da lareira e lendo o ensaio de Kierkegaard (tirado de Ou isto ou aquilo) sobre a ópera Don Giovanni, de Mozart, quando lhe aparece de repente o demônio (gelado e com camisa de malandro), que o interroga: “Então, lendo o livro do cristão?”. Costumo dizer que, com esse depoimento do Pai da Mentira, fica definitivamente provado que Kierkegaard era cristão, embora no último número de seu jornal panfletário O instante, deixado inédito ao adoecer para morrer, ele tenha escrito: “Digo e tenho que dizer que não sou cristão”. Vamos concordar que isso não prova que em verdade Kierkegaard não fosse cristão, mas ao menos nossos leitores brasileiros (ainda poucos, é certo) poderiam meditar sobre que motivos teria ele para negar ser algo que na Dinamarca do século 19 todo o mundo era. Como Kierkegaard se preocupava mais com o “tornar-se cristão” do que com o “ser cristão”, digamos que nessas negações talvez houvesse alguma tática ou alguma estratégia, ou algum “método na loucura”. Ao lado de Platão e Aristóteles, de Paulo, de Agostinho e Lutero, de Hegel e Schelling, de Hamman e Goethe, uma das leituras prediletas do pensador dinamarquês foi sem dúvida a obra de Gotthold Ephraim Lessing (1729-81), pensador alemão do século 18, que ele cita em prosa e verso, com grande prazer e admiração, desde seus primeiros escritos. Poderíamos dizer sem muito medo de errar que, dentre os modernos, Lessing ocupava aos olhos de Kie

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