Ignorância populista
Marcia Tiburi (Foto Simone Marinho)
Se podemos chamar de coronelismo intelectual o conjunto de práticas autoritárias no campo do conhecimento que estabelece uma espécie de ordem na qual o saber-poder tem dono, podemos chamar de ignorância populista uma outra ordem que especializa sua vigência com uma força desconhecida até agora.
Trata-se de um fenômeno paralelo ao do coronelismo intelectual entendido como sistema em que a verdade é ditada por aqueles que detêm os meios de produção do saber, e os transformam em mercadoria, já que detêm esses meios. A ignorância populista não é, no entanto, oposta ao coronelismo; ao contrário, ela é muito parecida com ele, a ponto de podermos dizer que dele deriva como uma sombra. Difere na forma e no conteúdo, mas não no método com que se exerce. Enquanto o saber pertencente às elites é propagado como inacessível para as massas, o não saber (a ignorância) é ofertado como uma benção, como se fosse tudo o que as massas precisam ter. Mas ela não é vazia de conteúdo, embora seu jogo seja apresentar-se como um vazio.
Cientes da importância do saber, mas incapazes, no entanto, de dominar o conteúdo, os sacerdotes da ignorância populista exercem a ignorância como um poder em nada diferente do saber. A ignorância não se apresenta como uma falta de saber, e sim como o saber em si. Seu substituto prático.
Esses sacerdotes detêm, portanto, a instituição, o poder em si, mas não seu conteúdo. Têm a máscara, mas não o rosto. Ao mesmo tempo, a máscara não serve para enganar, ao contrário: a imagem do ignorante é sua pr
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