Privado: História sem fim

Privado: História sem fim
por Marcos Flamínio Peres Numa rara combinação editorial, estão sendo lançadas no Brasil em traduções muito bem cuidadas duas obras capitais e, até certo ponto, complementares – uma de ficção, outra de crítica. Trata-se de Guerra e Paz, o grande épico de Tolstói pela primeira vez vertido diretamente do russo (por Rubens Figueiredo, CosacNaify) e O Romance Histórico (Boitempo), mais importante estudo sobre esse gênero, escrito por Gyorgy Lukács e publicado originalmente em 1937 (Boitempo, tradução de Rubens Enderle). Em seu estudo pioneiro, o crítico húngaro situa Guerra e Paz (1869) como o ápice de uma linhagem que teve início com as narrativas do escocês Walter Scott, como Waverley e Ivanhoé, e do francês Balzac, com O Último Chouan. Mas, para desvendar essa relação, é preciso entender qual o significado de romance histórico para Lukács. Para ser chamado assim, explica, não basta que a narrativa transcorra em um tempo passado e razoavelmente distante do presente do narrador – caso, por exemplo, do “setembro de 1799” que dá início a Os Chouans (publicado em 1829). Também não é suficiente que ele apresente figuras de inegável dimensão histórica – como é o caso de Napoleão, em Guerra e Paz, ou A Crônica do Reino de Carlos IX (1829), de Mérimée –, nem, igualmente, que descreva acontecimentos que modificaram os destinos de um povo ou de uma nação – como o Cinco de Março (1826), de Vigny. O que tornou Scott o iniciador de um novo gênero, arremata Lukács, foi ter colocado no centro das intrigas de suas narrativa

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