Günter Grass publica poema acusando Israel de ameaçar a paz mundial
O alemão Günter Grass, de 84 anos, vencedor em 1999 do Prêmio Nobel de Literatura, publicou um polêmico poema no dia 2 de abril que faz duras críticas ao Estado judeu e o compara ao Irã.
No seu poema chamado “O que deve ser dito”, publicado no jornal alemão Süddeutschen Zeitung, o poeta não só trata Israel como uma ameaça à “já frágil paz mundial”, como denuncia seu programa nuclear. Em contrapartida, as autoridades, que rejeitam qualquer comparação com o Irã, ressaltaram a confissão de Grass em sua autobiografia, de 2006, onde ele admite que foi convocado para a organização paramilitar nazista Waffen-SS, aos 17 anos.
O ministro do interior de Israel, Eli Yishai, anunciou que Grass seria impedido de entrar no país com base na lei que permite evitar o acesso de ex-nazistas aos territórios israelenses. Yishai deixou claro que a decisão teve forte relação com o poema publicado, muito mais do que com as ações do poeta há 70 anos atrás.
Acusado de antissemitismo, Günter Grass declarou à Associated Press que suas críticas foram dirigidas ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e não ao o país como um todo.
Leia abaixo em tradução livre o polêmico poema de Günter Grass, feita pela Redação da CULT a partir da versão em inglês:
O que deve ser dito
de Günter Grass
“Por que eu me mantive em silêncio, retido por tanto tempo
sobre algo praticado abertamente em
Jogos de Guerra, ao final dos quais aqueles de nós
que sobreviverem serão, na melhor das hipóteses, notas de rodapé?
É o direito alegado do primeiro ataque
que poderia destruir um povo iraniano
subjugado por um falastrão
e reunido em comícios organizados
pois uma bomba atômica pode estar sendo
desenvolvida dentro do seu arco de potência.
Mas por que hesito em nomear
aquela outra terra em que
por anos—embora mantido em segredo—
um crescente poder nuclear tem existido
além da supervisão ou verificação,
sujeito a nenhuma inspeção de qualquer natureza?
Este silêncio geral sobre os fatos,
diante do qual meu próprio silêncio se curvou,
parece-me uma mentira preocupante e obriga-me
a uma punição apropriada
no momento em que é desprezado:
o veredito “antissemitismo” cai facilmente.
Mas agora que o meu próprio país,
evocado repetidas vezes
para se indagar sobre seus próprios crimes,
profundo e sem comparação,
é tido como o ponto de partida,
(no que é meramente negócio,
embora facilmente declarado um ato de reparação)
para mais um submarino equipado
transportar ogivas nucleares
para Israel, onde nem uma bomba atômica
teve sua existência comprovada, apenas o medo
sendo a única evidência, eu direi o que deve ser dito.
Mas por que eu me mantive em silêncio até agora?
Porque eu pensei que minhas próprias origens,
manchadas por uma mancha que jamais poderá ser removida,
significavam que eu não poderia esperar que Israel, uma terra
a que eu sou, e sempre serei, ligado,
aceitasse essa declaração aberta da verdade.
Por que apenas agora, velho,
e com a tinta que resta, eu digo:
A energia atômica de Israel põe em perigo
uma já frágil paz mundial?
Porque o que deve ser dito
pode ser muito tarde amanhã;
e porque—sobrecarregado o bastante como alemães—
nós podemos estar fornecendo material para um crime
que é previsível, de modo que a nossa cumplicidade
não será eliminada por qualquer uma
das desculpas usuais.
E concedido: Quebrei o meu silêncio
pois estou cansado da hipocrisia ocidental
e espero também que muitos possam ser libertados
de seu silêncio, possam exigir
que aqueles responsáveis pelo amplo perigo
que nós enfrentamos, renunciem ao uso da força,
possam insistir que os governos,
tanto do Irã quanto de Israel, permitam a uma autoridade internacional
uma inspeção livre e aberta do
potencial e capacidade nuclear de ambos.
Nenhuma outra conduta oferece ajuda
para os israelenses e palestinos,
a todos aqueles vivendo lado a lado em inimizade
nessa região ocupada por ilusões,
e, finalmente, a todos nós.”
(1) Comentário
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Por que tanto barulho em torno do óbvio?! Günter Grass apenas reafirma o espectro que ronda o contemporâneo: a barbárie (ou o fim?) iminente a ser gestada por Estados que insistem em produzir armas nucleares.
Os programas nucleares de destruição devem ser banidos da face da Terra!
abs do Sílvio Medeiros
Campinas, é outono de 2012.