Sobre guerras e drogas
Notícia do “Diário Carioca” de 15 de março de 1935 (Foto: Reprodução)
A cena é um clássico da história do século 20, um daqueles momentos cujos impactos se estenderiam por décadas para cada metro quadrado do planeta. De terno escuro, o presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, chega apressado a um púlpito e convida um médico psiquiatra chamado Jerome Jaffe a ficar de pé ao seu lado, os dois emoldurados por duas bandeiras. A da esquerda, indefectível, é a dos Estados Unidos, listrada e estrelada. A da direita é o brasão do presidente, o desenho de uma águia sisuda que carrega com uma garra um ramo de oliveira e, com a outra, um punhado de flechas – símbolo do poder presidencial sobre a paz e a guerra. Naquela tarde de junho de 1971, era o poder representado por essa segunda garra que Nixon queria projetar.
“O inimigo público número um dos Estados Unidos é o abuso de drogas”, declarou o presidente, sem achar que precisasse justificar a afirmação. “Para combater e derrotar esse inimigo, é preciso executar uma ofensiva total”, disse, escolhendo verbos e substantivos retirados do vocabulário militar, embora o homem a seu lado fosse um médico, e não um general.
Em seguida, Nixon informou que estava pedindo dinheiro ao Congresso para financiar a ofensiva. Ele assegurou a Jaffe, escolhido por ele para comandar a agência interministerial encarregada da guerra, que, caso ele concluísse que “podemos usar mais dinheiro, mais será providenciado. Para derrotar esse inimigo que tem causado tanta preocupação, tanto dinheiro será providenciado quanto for necessário e útil”. Ele basicamente prome
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