Eztetyka em transe
'Deus e o Diabo na terra do sol' (1964), dirigido por Glauber Rocha (Foto: Cinemateca Brasileira)
O texto-manifesto “Eztetyka da fome” foi apresentado na Itália, em julho de 1965, um ano após o lançamento de Deus e o Diabo na terra do sol. Nele, Glauber Rocha aponta que a representação artística de nossos problemas sociais conferia ao tema um caráter exótico. O Cinema Novo, e sua íntima relação com a noção de dependência cultural e política, propõe assim que nosso progresso técnico se baseie na transposição de nossa precariedade também para o campo da técnica. Nossa inserção artística no mundo é analisada como parte indissociável de nosso “condicionamento econômico e político”, sendo ambos mediados por duas perspectivas/sintomas, a “esterilidade” e “a “histeria”. Ambos decorreriam do engano de supor que nosso “possível equilíbrio” resultaria em um corpo orgânico, quando o esforço deveria ser o de compreender que “a fome latina não é somente sintoma alarmante”, mas o “nervo de nossa própria sociedade”.
A superação de nossa impotência obriga a refutar o paternalismo colonialista sobre nossa miséria. No Brasil, a fome, até então vista como vergonha e não como problema político, era outro alvo a ser atingido. O “miserabilismo” se conectaria assim à literatura da década de 1930: a literatura de 1930 cumprira o papel de “denúncia social” enquanto o cinema de 1960 fotografa a fome como um “problema político”. O Cinema Novo se opõe à “mendicância”, “tradição que se implantou com a redentora piedade colonialista”, para propor uma Estética da Violência. A violên
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