Em depoimento à CPI, curador da Queermuseu diz que acusações são difamatórias

Em depoimento à CPI, curador da Queermuseu diz que acusações são difamatórias
O curador Gaudêncio Fidelis (Divulgação)

 

Nesta quinta (23), o curador Gaudêncio Fidelis compareceu à CPI dos Maus-Tratos, no Senado Federal, para prestar esclarecimentos a respeito da mostra Queermuseu, acusada por grupos conservadores de incitar pedofilia, zoofilia e profanar símbolos religiosos

Fidelis questionou a validade da investigação parlamentar e classificou as acusações como “difamatória”. “Como acusar uma exposição que já não pode ser vista? Estamos com um dilema até então jamais visto na história do Brasil: temos que discutir sobre uma exposição que não pode mais ser visitada”, afirmou. O curador criticou a descontextualização de obras como Cena de interior II, de Adriana Varejão; Cruzando Jesus Cristo com o Deus Shiva, de Fernando Baril, e Travesti de lambada e deusa das águas, de Bia Leite. 

“Fico muito preocupado. Quando falo de retirada de contexto quero dizer que a obra foi roubada de seu significado e a ela foi atribuída outra leitura. Neste caso, o novo significado foi a acusação de pedofilia e zoofilia. Mas estas obras não são sobre isso. O que causou o choque foi a retirada das obras de sua verdade”, disse Fidelis, doutor em História da Arte que já organizou mais de 50 exposições, entre elas a 10º Bienal do Mercosul, em 2015. 

Participaram da CPI apenas quatro dos sete integrantes: o presidente, Magno Malta (PR-ES), o relator José Medeiros (Pode-MT), e os senadores Marta Suplicy (PMDB-SP) e Humberto Costa (PT-PE). Além da baixa frequência, houve confusão e momentos constrangedores – em um deles, o senador José Medeiros (Podemos-MS), relator da CPI, chegou a questionar Fidelis sobre uma obra que não estava na exposição.

O curador afirmou ainda que, em seus 30 anos de carreira, sempre se preocupou com a possibilidade de “ferir a sensibilidade dos visitantes”, mas foi categórico ao afirmar que exposições não são lugar de consenso, mas de debate: “A arte não vai contemplar a todos nós. Ela é um espelho. Quando eu me defronto com ela, eu projeto ali minhas crenças, minha história de vida, meus preconceitos, minha disposição ou indisposição com o outro”.

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