Fundo é o poço do passado
Mann em Amsterdã em 1966 (Den Haag Nationaal Archief)
Em sua autobiografia, Poesia e verdade, Johann Wolfgang von Goethe escreve que a história bíblica de José e seus irmãos é “extremamente encantadora, mas demasiado breve, de modo que nos sentimos imediatamente compelidos a continuar a imaginá-la e elaborá-la em seus detalhes”. Foi exatamente o que fez Thomas Mann em seu José e seus irmãos: partindo de tal breve episódio da Bíblia, dedicou 16 anos à escrita do épico em quatro partes que se tornou paradigma da literatura mundial. Publicada originalmente entre 1933 e 1943, essa obra singular na literatura do século 20 ganha neste ano uma reedição da Companhia das Letras, com tradução consagrada de Agenor Soares de Moura.
Para Marcus Vinicius Mazzari, professor de teoria literária e literatura comparada na USP, e coordenador da coleção Thomas Mann, editada pela Companhia das Letras, José e seus irmãos configura “uma das narrativas épicas mais extraordinárias na literatura mundial”. A reconstituição ficcional da história de José celebra, como é dito pelo próprio narrador da tetralogia em seu prelúdio, uma fantástica “festa da narração”, da arte de “contar histórias”.
“Fundo é o poço do passado. Não deveríamos antes dizer que ele é insondável?”, inicia o primeiro volume. Como lembra Irmela von der Lühe, professora aposentada da Universidade Livre de Berlim, no posfácio à edição, as primeiras linhas do romance não apenas antecipam humoristicamente o poço no qual José, na segunda parte da tetralogia, será lançado pelos seus irmãos, como também
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