Privado: Fora da representação

Privado: Fora da representação
por Vladimir Safatle Em seu artigo no último número desta revista, Christian Dunker insistiu no anacronismo de nossas “teorias da mudança”, evidente diante das Manifestações de Junho. Ele lembrou, com muita propriedade, como a “possibilidade de que uma grande mudança aconteça não pela força genérica dos fins, mas pela gravidade silenciosa dos meios contraria nossa crença na representação”. Daí a ideia de que “uma massa tem que ter um líder, um porta-voz, um partido. Uma massa que não declara o que quer, nos termos estipulados pelo poder, torna-se perigosa ou preguiçosa. É a temível massa tomada pela anomia, como postulava Durkheim, ou pelo pânico, como observou Clausewitz, a propósito do exército”. De fato, tudo se passa como se, fora dos padrões estipulados de representação política e de determinação institucional, só pudesse haver o caos. Estamos tão presos ao “fetiche da representação” que só enxergamos um acontecimento com os olhos de quem se amedronta com o irrepresentável e com o indeterminado. Mas é da essência de todo acontecimento produzir uma espécie de “zona de indeterminação”. Nesta zona, a força corrosiva da negação opera seu trabalho. Já Maquiavel lembrava: quando o povo sobe à cena do político, ouvimos apenas a potência do “não”. O povo não quer se espoliado, não quer ser oprimido, não quer ser calado. Mas, como sabem os artistas, a primeira palavra que se enuncia para que a criação seja possível é: “não”. Esta negatividade é a condição para toda verdadeira invenção dem

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