Filósofo ao piano

Filósofo ao piano
O filósofo Vladimir Safatle (Reprodução)
  O ouvido humano é, por natureza, mais preguiçoso do que a visão. Até quando assistimos a um concerto, nossas reações em geral são comandadas pelo talento gestual do maestro ou dos músicos. Se o programa é um trio de piano-violino-violoncelo, a atenção do espectador tende a prender-se a um ou outro instrumento, mas com um diferencial: o fluxo do discurso sonoro, passeando ora por um, ora por outro instrumento, acaba levando o público aos sons mais do que à visão do trio – menos atraente do que a luxuriante centena de instrumentistas de uma sinfônica. A questão parece – mas não é óbvia –, e ressalta-se no caso de Caesar – como construir um Império. As vozes dos dois atores transitam no mesmo canal auditivo do piano, mas suas relações desdobram-se em níveis sonoros diferentes: as primeiras com significados objetivos (o excelente texto da dupla Shakespeare-Alvim); o segundo, incapaz de traduzir em palavras seu conteúdo, porém muito mais impactante do ponto de vista sensitivo. Daí a pista de Vladimir Safatle, pianista e compositor da trilha: a música, nesse caso, é concebida como um sismógrafo do discurso verbal. O compositor austríaco Peter Ablinger vem fazendo uma tentativa sismográfica desde 1998, sobrepondo uma partitura pianística que cola literalmente, em termos de alturas e intensidades, às falas de grandes personalidades, de Mao Tsé-Tung a Sartre, de Angela Davis a Pasolini. O resultado é interessante até a segunda experiência. Dali em diante, fica repetitiva, óbvia: você pode conferir no CD Voices and piano, com

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