Estreiam filmes baseados em Baudelaire e Thompson
Bebida alcoólica e drogas sintéticas inspiram duas estreias no cinema neste mês: Diário de um Jornalista Bêbado e Paraísos Artificiais, baseados nos escritos homônimos de Hunter Thompson e Charles Baudelaire.
A seguir, o jornalista americano Matthew Shirts, redator-chefe da National Geographic Brasil, e o diretor de Paraísos Artificiais, Marcos Prado, dão suas impressões sobre os autores.
CULT – Por que o filme é inspirado no ensaio de Baudelaire?
Marcos Prado – Por meu anseio pela profundidade na reflexão e discussão sobre as drogas na sociedade. Há tempos tenho uma preocupação com certos excessos aos quais a juventude contemporânea está exposta nos ritos de passagem. São muitas perguntas sem resposta.
Há 150 anos, Baudelaire descreveu a busca pelas drogas como uma compulsão humana em atingir o Éden. Concorda?
Acredito que, nos primórdios da humanidade, o homem usava drogas para se conectar com sua espiritualidade. Mas, desde a formação das grandes cidades, em que o homem se tornou um ser estressado, ansioso e incapaz de suportar a própria realidade, o vício fez da droga um problema de saúde pública. As drogas sempre existiram e sempre vão existir. O problema é a forma como você se relaciona com elas.
Assim como o ensaio, o filme assume posição isenta em relação ao seu consumo?
O consumo e o tráfico são evidentes, mas não sou moralista nem faço apologia. Conversei com muita gente para entender quem é esse jovem multifacetado de hoje; que valores ele abraça para não sucumbir à corrida desenfreada do consumo, à superficialidade dos relacionamentos e à necessidade de viver o momento intensamente e sem limites. O filme não traz respostas, mas deixa a porta aberta para discussão e reflexão.
CULT – Qual o melhor livro de Hunter Thompson?
Matthew Shirts – Medo e Delírio em Las Vegas. Ele coloca em questão o narrador jornalístico com intensidade e imenso humor. Traça, ao mesmo tempo, um retrato sem igual daquele momento louco nos EUA – o fim da década de 1960.
Tem também outros livros importantes na história do jornalismo americano, como Hell’s Angel’s – Medo e Delírio Sobre Duas Rodas, no qual “infiltrou-se” na gangue de motoqueiros durante um ano quando o resto do país morria de medo deles.
Esse, seu primeiro livro, pode ser considerado uma obra do jornalismo literário já praticado por Tom Wolfe, Truman Capote e Gay Talese.
Qual a sua opinião sobre Rum Diaries, no qual foi inspirado o filme?
Gosto dele, é sua única obra de ficção. Li-o pela primeira vez no ano passado. Do filme gostei menos, mas é sempre bom ver Johnny Depp interpretar seu grande amigo.
E o personagem mais marcante?
O melhor personagem dele é ele mesmo, tanto na escrita, como na vida.
Como Hunter Thompson o influenciou?
Ele me influencia todos os dias. Não passo mais de 48 horas sem pensar “o que faria HST?”.
Se pudesse fazer uma pergunta a ele, qual seria?
Perguntaria se doeu quando se matou com um tiro.