Facetas de uma artista

Facetas de uma artista

 

Marília Kodic

Ganhadora de melhor roteiro em Cannes por Comme une Image (Uma Questão de Imagem, 2004) e indicada ao Oscar de melhor filme  estrangeiro por Le Goût des Autres (O Gosto dos Outros, 2000), a cineasta francesa – roteirista, diretora e atriz dos dois longas citados – Agnès Jaoui, 46, não precisava de mais nada para ser reconhecida no meio artístico. Fato que, segundo ela,  não é o principal: “O importante para mim é estar feliz com o meu trabalho”.

Mas Agnès vai além e passeia pelas múltiplas vertentes das artes. Ela lança agora seu segundo CD, Dans Mon Pays, com direito  a regravação de “Olhos nos Olhos”, de Chico Buarque. “Sou fã dele. Simplesmente adoro sua música e suas letras. Fui criada  ouvindo bossa nova, sempre foi familiar para mim. Lembro de ouvir Ópera do Malandro aos 14 anos”, conta à CULT. Jaoui  apresenta- se no Brasil em maio, durante a Virada Cultural Paulista.

É a primeira vez que você vem ao Brasil como cantora. O que muda?
Agnes Jaoui: Já vim aqui quatro, cinco, talvez seis vezes, não sei ao certo. Mas com certeza essa vez será diferente. Eu e os músicos estamos muito empolgados. O Brasil é um país de música, e de música maravilhosa, então é um desafio nos apresentarmos em um lugar onde as pessoas realmente gostam e entendem de música. Estou muito animada. Além disso, quero assistir à peça Um Dia como os Outros, que escrevi junto com meu marido Jean-Pierre Bacri. Ela está em cartaz no Rio de Janeiro, com direção da Bianca Byington e com a atriz Sílvia Buarque.

Numa de suas vindas, você veio para adotar duas crianças no Rio de Janeiro. Por que escolheu crianças brasileiras?

Foi uma longa jornada e, finalmente, tenho duas crianças maravilhosas e estou muito feliz. Queria crianças e escolhi o Brasil, um país que adoro, onde poderei voltar sempre que elas quiserem. Os brasileiros são muito carinhosos com crianças, isso é muito importante.

Seu primeiro álbum Canta (2006) mistura espanhol e português. Por que escolheu essas línguas, e não o francês?
Foi natural. Na verdade muitos dos músicos que conheço são latinos, de Cuba, Argentina, Espanha, e não falam francês. A voz não fica igual em francês como fica nessas línguas. Eu queria me livrar das letras e da mensagem, queria que fosse só o prazer de cantar. O importante é eu estar feliz com o meu trabalho.

Em uma das faixas, há uma participação especial da Maria Bethânia. Por que decidiu convidá-la?
Eu amo a sua voz, eu amo o modo como ela canta. Meu empresário falou que podíamos tentar e eu falei “oh! jura?” e ele disse: “por que não?”. Então ele tentou e ela aceitou. Não cheguei a conhecê-la, porque infelizmente ela não pode vir à França. Mas foi incrível ter a participação dela.

Como você descreve seu estilo musical?

Não sei. Aqui na França, chamaram de “world music”. Mas é simplesmente meu gosto. Músicas que amo. É muito genérico.

Você escreveu a letra de alguma das músicas?
Não. Só escrevi duas canções do segundo álbum, Dans Mon Pays (2011). Acho difícil escrever músicas em francês, apesar de escrever peças e roteiros. Estranhamente, há um bloqueio. É diferente, não sou boa nisso.

Neste Segundo CD, você canta uma música do Chico Buarque. O que acha dele?
Sou fã do Chico Buarque. Simplesmente adoro sua música e suas letras. Primeiro, amei as músicas, e, ao entender as letras, descobri o quão lindas eram – especialmente para as mulheres. “Olhos nos olhos”, que é a música que canto, é absolutamente bonita.

Que outros músicos brasileiros você conhece?

Muitos, muitos. Gosto de Lenine. Amo Caetano Veloso, é claro, e Maria Bethânia. Amo todos da bossa nova. Mas também gosto dos mais modernos, como Adriana Calcanhoto. Vocês têm tantos talentos, é incrível. Sou muito fã da música brasileira. Há tantos estilos e vozes. O português, a língua de vocês, é um milagre.

De onde surgiu esse interesse pela cultura brasileira?
Meu pai sempre foi fã de música, e fui criada ouvindo bossa nova, sempre foi familiar pra mim. Lembro de ouvir Ópera do Malandro, do Chico Buarque, aos 14 anos. Foi um choque pra mim, adorei.

Você se vê primariamente como atriz, diretora ou cantora?

Olha… sou uma boa escritora, não má diretora, não tão má atriz, não tão tão má cantora, mas uma boa “animadora”. Quando estou no palco, vejo que as pessoas estão felizes, e eu fico feliz por estar lá.

Seus filmes tratam de assuntos profundos, como auto-estima e preconceito. De onde vem a vontade de falar disso?
Descobri aos vinte e poucos anos que a maioria dos livros que lia tinha um homem como protagonista, então não conseguia me identificar completamente. Era ou a jovem linda ou a velha feia, os personagens eram muito pobres. Queria expressar outras vozes.

Quem era sua escritora favorita?
Jane Austen.

E no cinema, quem admira?

David Linch, Pedro Almodóvar, Woody Allen, Ingmar Bergman, Jean Renoir. Todos os bons diretores.

Como é ter ganhado tantos prêmios, como melhor roteiro em Cannes (Comme une image, 2004) e indicação por melhor filme estrangeiro no Oscar (Le Goût des autres, 2000)?
(silêncio) Não sei. Tivemos sorte.

Quais são os seus próximos planos?
Acabei de terminar o roteiro do meu próximo filme, Au Bout du Conte (No final das contas), quer será filmado no inverno. Antes disso, pretendo atuar em um ou dois filmes de diretores franceses.

Agnès Jaoui na Virada Cultural Paulista
Onde:
Teatro Politheama – R. Barão de Jundiaí, 160, Jundiaí, e Teatro Municipal – Pça. Alto do São Bento s/nº, Ribeirão Preto  (SP)
Quando:
14 e 15 de maio, respectivamente, à 0h30 e às 17h
Quanto:
entrada franca
Info.: www.viradaculturalpaulista.sp.gov.br

Peça Um Dia como os Outros
Onde: Teatro Poeira – Rua São João Batista, 104, Rio de Janeiro, (RJ)
Quando: de sexta a domingo, às 21h, até 26 de junho
Quanto:
R$ 30
Info.: (21) 2537 8053, www.teatropoeira.com.br

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