Exu nos cria, Exu nos sustenta

Exu nos cria, Exu nos sustenta
Loja de artigos para umbanda no Rio de Janeiro, em 1969 (Foto: Roberto Reis/Arquivo Nacional)
  A  figura de Exu sempre foi a de um parente muito próximo por quem aprendi a ter afeto e respeito, tal como um mais velho que me orientava nos caminhos da vida. Em minha infância, esse orixá tinha a incumbência de nos olhar (cuidar), enquanto minha mãe ia trabalhar, era a ele que minha mãe delegava as recomendações quanto a cuidar de seus filhos enquanto ela estava na casa da madame como empregada doméstica. Seu tempo de cuidar de seus filhos nem sempre era compatível com a função que exercia (somente Exu era confiável para o cuidado de seus filhos). Mulher sozinha, provedora de sua prole, sem homem que fizesse esse papel. Em Exu ela confiava, e dava as recomendações aos filhos: “Não aprontem, pois seu avô está tomando conta de vocês”. Aquela pedra em um “caqueiro” atrás da porta se materializava em nosso avô, a pedra era um parente mais velho cuidadoso e atencioso no cuidar de seus filhos. Em nosso olhar e percepção, não havia questionamento, ele era nosso “Voinho” como minha mãe assim disse, e a palavra tinha significação, pois tínhamos pertencimento em nossa criação de axé, ele não era um estranho a nós, pois a pedra se comunicava com minha mãe e ele era seu pai. Três filhos pretos em casa sozinhos: era essa a realidade que vivíamos, era essa a realidade daquela mulher preta. Desencantada com a figura masculina que abandonou a ela e aos filhos, somente Exu era confiável, Exu era seu pai, Exu era o avô de seus filhos. Muitas vezes, mesmo com tantas recomendações para que ficássemos em casa e não apront

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