Existe uma filosofia brasileira?
Renato Noguera: A filosofia não foi inventada e criada na Grécia Antiga, já havia povos que a praticavam, como os do continente africano (Foto: Divulgação)
Em depoimentos e artigos, sete pensadores com diferentes formações refletem sobre os entraves e as possibilidades de um novo olhar para essa questão
Renato Noguera
professor de filosofia na UFRRJ e coordenador do grupo de pesquisa Afroperspectivas, Saberes e Infâncias
É inevitável, ao falarmos de filosofia ocidental, pensar em uma filosofia que nasceu na Europa. Precisamos, então, reconhecer o território no qual estamos inseridos, ocupado inicialmente pelos povos originários, marcado por um tipo de colonização lusitana e pela escravização de povos africanos.
Uma das dificuldades de pensar a questão é fazer um tipo de filosofia que precisa se localizar onde nós estamos, com um horizonte cultural que engloba visões de mundo tupi-guaranis e iorubás, entre outros povos indígenas e africanos, e não apenas uma visão europeia. É o que tenho chamado de afroperspectiva – semelhante à de muitos filósofos europeus que têm se debruçado sobre o olhar dos camponeses alemães e sua visão de mundo, por exemplo.
Falar em filosofia brasileira é viável na medida em que reconhecemos os afetos, as condições históricas do território e nosso horizonte cultural, marcado por uma democracia muito tardia e pela colonização, fatores que geram um contexto diferente. É, portanto, uma filosofia com seus sotaques, com seus repertórios. Inevitavelmente, terá relações com o samba, com a capoeira, com paisagens culturais propriamente brasileiras, como nosso futebol. Comparo futebol e filosofia pois o tipo de drible que o Diamante Negro fa
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