Esteticamente correto
A filósofa Marcia Tiburi (Foto Simone Marinho / Divulgação)
A pobreza da experiência cultural contemporânea agrega dois grupos pseudopolíticos: os “politicamente corretos”, que Nietzsche, no século 19, chamaria de “sacerdotes da moral”, e seus críticos, sempre autoelogiados como “politicamente incorretos”, que seriam hoje “sacerdotes do imoral”, servos daquela moral, só que sob o disfarce da inversão. O “sadismozinho” diário dos antipolíticos politicamente incorretos esconde o desejo de uma crueldade socialmente inviável. A maldadezinha do cotidiano faz mal às suas vítimas, mas é autorizada ao agente, desde que ele saiba manter as aparências de que tem toda a razão e não é tão mau assim.
A manutenção das aparências como verdadeira força que mantém as condições da dominação é o que chamaremos pela expressão “esteticamente correto”. Enceguecidos pela cultura do espetáculo, não vemos justamente o “evidente”. O velho parecendo novo, o mau parecendo bom, o sujo parecendo limpo, o feio parecendo belo. A correção estética é a expressão da racionalidade técnica da dominação. Exemplos abundam, dos modos de vestir às academias de ginástica.
O esteticamente correto foi bem apresentado, por exemplo, em um filme chamado O homem ao lado (Gastón Duprat e Mariano Cohn, 2009). Tal como na vida, o personagem principal do filme é um respeitado designer internacional que mora na única casa desenhada por Le Corbusier em todas as Américas. A casa é impecável e dentro dela se desenvolve uma vida moralmente bem comportada, o que se vê no modo como ele e a esposa tra
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