A era do trauma
O termo “trauma” tornou-se nas últimas décadas um conceito-chave nos estudos culturais e nas assim chamadas ciências humanas de um modo geral. Se o trauma pode ser pensado tanto como um evento que produz um abalo (“o trauma que alguém sofre”) como também como o efeito desse evento (“a pessoa traumatizada”), é porque estamos diante de um desses fenômenos que colocam em questão as fronteiras entre o sujeito e o seu mundo. O trauma desestabiliza qualquer noção simplista de “realidade”. Ele tensiona a possibilidade de se pensar um mundo representado sem problemas pelo sujeito. Pensar o trauma implica uma série de questões que foram colocadas historicamente pelo século 20. Esse século, que revelou com toda clareza o profundo significado da dialética do Iluminismo, ou seja, em que medida a razão Ocidental se desdobra simultaneamente em progresso (técnico-científico) e em barbárie (nas relações inter-humanas e nossa com a natureza), entronizou também o trauma como conceito que permite lançar luz sobre nós.
Mas o périplo desse conceito está longe de ser linear e ascendente. Termo derivado do grego e significando etimologicamente “ferida”, ele foi ressignificado pela psicanálise, na última década do século 19, e alternou fases de esquecimento com momentos em que se tornou reconhecido como meio para descrever-nos em um mundo cujas relações sociais não deixaram de mostrar uma altíssima dose de opressão e violência. Mas não se trata apenas de um conceito que simplesmente se coloca na continuidade do de “choque”, e q
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