entrevista | “A monogamia é um sistema de promessa”
(Foto: Acervo pessoal)
Monogamia, ou sua recusa, não diz respeito à quantidade de parceiros – é uma decisão sobre liberdade, diz a psicóloga Geni Núñez. Doutora em Ciências Humanas e indígena guarani, Núñez propõe, nesta entrevista à Cult, uma analogia ambiental para pensar a exclusividade nos relacionamentos afetivos. “A monocultura só se faz na negação da diversidade, já a floresta precisa ser múltipla e concomitante”, afirma.
A monogamia é o afeto que se positiva com a negativação dos outros, você diz. A monogamia diz respeito ao desejo sexual, exclusivamente?
A monogamia incide também sobre isso, mas orienta outras relações. A divisão entre amor e amizade, por exemplo, serve a uma espécie de contraste, então se supõe que amizade é o afeto em que não haveria impulso sexual, o que não acontece exatamente dessa forma. Muitas pessoas que são amigas podem desenvolver outros vínculos. E os vínculos afetivos sexuais também são vínculos de amizade, de certa forma. Como a visão colonial cria muitos binarismos, acaba incidindo nisso. Tem uma autora de que eu gosto muito, a Brigitte Vassalo, que comenta sobre o modelo de amor romântico na política, por exemplo, e como isso aparece naquele lema da ditadura militar: “Brasil ame-o ou deixe-o”. Qual é a opção de amor que entra nessa política com tom coercitivo? Que você tem que aceitar irrestritamente?
Inclusive, quando há a quebra do contrato de exclusividade sexual, é muito comum que se use narrativas como “não se preocupe, foi só sexo” para tranquilizar a pessoa de que ela está
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