entrevista | “Gênero se tornou um bode expiatório”

entrevista | “Gênero se tornou um bode expiatório”
Judith Butler (foto: Franca Cortez)
  O conceito de gênero tem uma história relativamente recente, da qual fazem parte psiquiatras, antropólogas, filósofas, historiadoras etc. Gênero, ou gender, na sua formulação original, pretende como conceito mostrar a diferença radical entre o sexo masculino ou feminino definido pelo corpo biológico e os modos de tornar-se homem ou mulher na vida social. Numa longa série de contribuições para a formulação de gênero está a filósofa Judith Butler, cuja proposição mais radical é a de que não existe nenhum elemento essencial, nenhuma substância que garanta que um corpo biológico identificado como feminino desde o nascimento se tornará uma mulher. Com esse passo, o conceito de gênero como uma construção social passa a apontar também o corpo como uma construção. A partir desse postulado, apresentado por ela pela primeira vez nos anos 1990 com a publicação de Problemas de gênero, abrem-se novos e múltiplos debates acerca da instabilidade do que é “ser” uma mulher e de como gênero não deve ser considerado um atributo do sujeito, equivalente, por exemplo, à razão, à linguagem ou à capacidade moral. Ao afastar-se do fundamento natural do corpo, Butler acabou sendo identificada como principal porta-voz dos direitos das pessoas trans, cuja reivindicação é justamente a separação entre corpo biológico e identidade social. Conforme as conquistas de direitos foram se ampliando, cresceu também a resistência aos direitos das pessoas trans, hoje mais do nunca ameaçados pela expansão de forças transnacionais e de governos de ult

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