entrevista | “Jesus não veio fundar uma igreja, mas resgatar o Reino de Deus”

entrevista | “Jesus não veio fundar uma igreja, mas resgatar o Reino de Deus”
(Foto: Chicha Fuerte)
  Em tempos de sequestro da fé cristã, Frei Betto propõe revisitar a figura de Jesus Cristo em seu projeto civilizatório, fundado no amor e na partilha dos bens da Terra e dos frutos do trabalho. Em Jesus militante: Evangelho e projeto político no Reino de Deus (Vozes, 2022), o escritor e frade dominicano analisa a desfiguração do rosto progressista do cristianismo após a restauração conservadora a partir dos anos 1980. Nesta conversa com a Cult, Frei Betto fala de suas expectativas para o novo governo Lula e dos dilemas do cristianismo em tempos de cooptação fascista. Poderia nos mencionar seus principais objetivos e argumentos em Jesus militante? Trabalhei muitos anos no livro. Muita pesquisa. Meu objetivo é deixar claro que Jesus não veio fundar uma Igreja (a cristã) ou uma nova religião (o cristianismo). Ele veio resgatar o projeto de Deus para a humanidade, que chamava de Reino de Deus, em contraposição ao reino de César. A Igreja deslocou o Reino de Deus para as esferas celestiais, como se ele só existisse na eternidade. Na cabeça de Jesus, ele se situa no horizonte histórico da humanidade e se baseia em dois pilares: nas relações pessoais, o amor; nas relações sociais, a partilha dos bens da Terra e dos frutos do trabalho humano. Prova de que Jesus tinha no Reino um novo projeto civilizatório é que, no Pai Nosso, ele nos ensinou a orar “venha a nós o vosso Reino”, e não “leve-nos ao vosso Reino”. A expressão “Reino de Deus” aparece nos quatro evangelhos 122 vezes, enquanto “Igreja” apenas duas vezes e, assim me

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