entrevista | Refazer a utopia
(Foto: Eric Fougere/Corbis/Getty Images)
Em visita ao Brasil para lançar o segundo volume de A saga dos intelectuais franceses, 1944-1989: O futuro em migalhas (1968-1989), pela Estação Liberdade, o historiador François Dosse conversou com a Cult sobre a crise das utopias, o fazer da História e o imaginar do futuro. Em uma época que já não evoca projetos de emancipação, o pesquisador do Instituto de História do Tempo Presente entende que os intelectuais são atores possíveis para imaginar horizontes não experimentados. “Há possibilidades não comprovadas e, nelas, há o que chamaríamos de sementes da construção do futuro.”
O refluxo das utopias de Maio de 1968 depôs as esperanças e fez emergir o temor da catástrofe. Uma década antes, Albert Camus já havia dito que o papel de sua geração não era refazer o mundo, mas impedir que ele se desfizesse. Como essa inversão de expectativas explica a produção intelectual francesa na segunda metade do último século?
Entre a libertação do nazismo e a queda do Muro de Berlim em 1989, mudamos o regime de historicidade, o fio condutor da análise que estou desenvolvendo.
O que quero dizer com uma mudança no regime de historicidade? É um conceito teorizado por um conhecido colega historiador chamado François Hartog. Isso significa que o que desapareceu no século 20 foi o futuro, o horizonte de expectativa, o projeto. Então, nos encontramos na temporalidade que Hartog chama de presentismo. Tomando de empréstimo uma imagem de Pierre Nora, vivemos cada vez mais em um período de presente estagnado, porque não há mais nenhum pro
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