Jacques Derrida por Leyla Perrone-Moisés
O pensador Jacques Derrida (Arte NCMallory)
Quem teve a sorte de conhecer Jacques Derrida pôde ver em sua própria pessoa e seu modo de ser uma preocupação ética sem descanso. Havia nele, ao mesmo tempo que uma cordialidade, uma hospitalidade, uma inteligência poderosa, uma fragilidade, um medo, uma inquietação constante com a responsabilidade de suas posições. Roland Barthes viu muito bem essas características do filósofo quando disse dele: “Sua solidão vem daquilo que ele vai dizer”.
Derrida foi o contrário de um apolítico: foi um corajoso e constante re‑pensador da política. Não era um utópico, no sentido de um idealista apenas expectante; mas um ativista do pensamento, um analista agudo do presente e um antecipador do futuro. Alguns o acusaram de niilismo. Ele era, pelo contrário, fundamentalmente otimista. Entre o perigo e a chance, apostava na chance.
A Desconstrução não é um sistema de pensamento em que possamos nos apoiar, ou um método que possamos aplicar. As propostas de Derrida são um convite à travessia do abismo na corda bamba, sem rede de segurança. Mas quem pode hoje, honestamente, garantir segurança na travessia dos tempos? É preciso coragem para sair do lugar, para escolher o que abandonar e o que conservar na viagem, porque sem abandono não há renovação, e sem memória não há História.
LEYLA PERRONE-MOISÉS é professora emérita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e amiga de Derrida. Texto publicado na CULT 117.
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