Entre o 16 e o 20 de agosto: três desafios para as forças progressistas

Entre o 16 e o 20 de agosto: três desafios para as forças progressistas

No último domingo, 16 de agosto, mais uma das manifestações convocadas por setores conservadores da sociedade brasileira aconteceu nas principais capitais do país. Menor do que a primeira manifestação de março de 2015, pelas estimativas correntes, a deste mês teve porte semelhante àquela ocorrida em abril, o que sinaliza que tais forças possam estar se esgotando e não possuem mais o mesmo fôlego. Isso porque se poderia esperar um contingente maior agora, afinal, o quadro atual é dramaticamente menos favorável ao governo federal do que o era há quatro meses: a crise econômica agravou-se; partidos políticos de direita, como o PSDB, assumiram claramente a defesa das manifestações; o vazamento seletivo da Operação Lava Jato municia a opinião pública de elementos para desgaste do governo; tensionamento político constante com maior espaço institucional do PMDB e assim por diante.

Tal leitura pode levar à constatação de que esse tipo de manifestação já está exaurindo sua capacidade de produzir efeitos políticos diretos. As críticas dispersas e heterogêneas que antes tinham maior expressão estão cada vez mais reduzidas a um antipetismo raivoso que só pode ser contemplado com a derrubada da Presidenta Dilma.

Por óbvio, é preciso discernimento analítico e político para entender que a mobilização do dia 16 contém certa heterogeneidade de demandas e um grau de diversidade da composição social e ideológica. No entanto, não é possível ignorar os inúmeros registros de cartazes e faixas ofensivos, autoritários e com apologia a violências e crimes. Podem não refletir a opinião da maioria, mas já são parcela expressiva das posições visíveis e das posturas das lideranças, o que revela muito do caráter conservador que esses atos, cada vez mais monotematicamente antipetista sem maiores propostas, estão assumindo.

Diante do esvaziamento progressivo desses atos que parece se anunciar, as tarefas das esquerdas são enormes para disputar essa massa de insatisfeitos. Esquematicamente, três são os desafios postos às forças progressistas atualmente.

No curto prazo, é preciso garantir que haja o respeito à legalidade com o rechaço a propostas de novas eleições, de impeachment e de “intervenção militar constitucional”. Todas essas saídas são, em verdade, um golpe não apenas contra o governo, mas contra a democracia e as regras do jogo. A médio prazo, o desafio é garantir que este mandato do governo Dilma leve a cabo seus compromissos de campanha e combata a crise econômica não com mais austeridade fiscal neoliberal e elevação da taxa de juros. E tampouco admitir que se enfrente a crise política recorrendo novamente às oligarquias mais retrógradas do sistema político brasileiro, com um arco de governabilidade que empodere ainda mais esses grupos e reproduza as práticas clientelistas e patrimonialistas que engessam as possibilidades de mudança do país.

Aliás, vale destacar que a Agenda Brasil, apresentada na última semana, representa um retrocesso se tirada do papel e implementada, por ser mais uma das “terceirizações” feitas por um governo fragilizado que já tinha delegado ao Ministro Joaquim Levy a condução da economia, ao Vice-Presidente Michel Temer a articulação política e, agora, ao Presidente do Senado Renan Calheiros a propositura de uma agenda de governo para o próximo período. Pior: as medidas propostas sinalizam, gravemente, para retirada de direitos sociais e ambientais. Ou seja, erra-se na escolha do aliado e, substancialmente, nas medidas a serem implantadas.

Por fim, o terceiro desafio, que é de longo prazo e mais complexo, demanda a reinvenção das formas de fazer e pensar uma política de esquerda e transformadora no atual contexto brasileiro. Tal tarefa não pode se submeter e se subsumir ao calendário eleitoral de 2018. Não se trata de desprezar a importância das eleições, mas é preciso evitar aquilo que, nos últimos 14 anos, foi a grande reivindicação da esquerda: eleger o próximo governante.

A reflexão em torno de um novo projeto de desenvolvimento social e econômico, que radicalize os processos de participação democrática e consolide compromissos de respeito aos direitos humanos e às diversidades é urgente. Conciliar esses desafios em três planos distintos e simultâneos, com a formação de uma mobilização ampla dos setores progressistas, é condição essencial para isso.

O ato nacional convocado para este dia 20 de agosto, que deve assumir o tom de defesa da democracia e dos direitos, com as críticas cabíveis e necessárias ao governo, pode ser um bom começo.

Deixe o seu comentário

Artigos Relacionados

TV Cult