Em torno de um pensamento enterreirado

Em torno de um pensamento enterreirado
(Foto: Arquivo Nacional)
  Experimentamos o hábito de lidar com certa caracterização da filosofia como um modo de pensar que tem vínculos com a abstração, com a criação de conceitos que, não raro, são entendidos como explicações gerais de fenômenos que, no mais das vezes, nos exigem um distanciamento, um afastamento, uma posição de objetividade para pensar. Se tomarmos essa caracterização específica como verdadeira, poderíamos pensar que os terreiros – esses territórios experienciais criados por pessoas negras, em alianças com saberes e práticas indígenas, que hospedam as tradições de matrizes africanas, como os candomblés, as umbandas, os batuques, os catimbós, as encantarias, as mais variadas macumbas etc. – são lugares de produção da filosofia?  A resposta mais rotineira seria “não”. Entretanto, em vez de tomar essa caracterização como acertada e exclusiva, poderíamos questioná-la a partir das heranças africanas e indígenas que os terreiros acolheram. Gostaria de provocar esse questionamento com base em um ethos macumbeiro específico que, embora visível também em outras experiências de terreiro, é muito pulsante nas vivências dos terreiros dos candomblés de angola – originados desses encontros entre as culturas dos povos de línguas bantas no Brasil e os saberes de nossos povos originários, numa relação entremundos com as culturas coloniais que nos cercam. É desse ethos que venho propondo a ideia de um pensamento enterreirado, que emerge no e do terreiro, e que é uma das expressões de nossa filosofia popular brasileira. 

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