Privado: Em combate permanente contra o inessencial

Privado: Em combate permanente contra o inessencial
No espetáculo Vozes dissonantes, de 1999/Foto: Isla Jay por Welington Andrade Para uma arte comunal e gregária como o teatro, o fato de Denise Stoklos militar há tanto tempo em uma profícua carreira solo – apartada do convívio profissional regular com outros atores e diretores – pode soar imodéstia pura. Mas também uma clandestina obstinação. Porque clandestinidade é a marca que Denise vem imprimindo a sua trajetória, desde que, no início dos anos 1980, recusando as práticas de praxe de uma carreira “oficial” (que costumam ir do teatro inofensivo à mais ofensiva das telenovelas que, diariamente, atacam a sensibilidade e a inteligência do espectador), a intérprete optou por viajar sem passaporte pelos vastos domínios da territorialidade experimental teatral brasileira. A partir de então, livre da obrigação de “representar” personagens já construídas e fixadas no cânone dramatúrgico, Denise concebeu a persona de atriz-narradora constantemente em crise em torno da qual ela monta seus espetáculos. O ponto de partida dessa figura – ávida por propor ao espectador um encontro vivo e pulsante, pautado por mútua fricção – é a subjetividade da própria atriz, e a crise que ela vive em cena se reveste de um caráter íntimo e público ao mesmo tempo. O eu-lírico concebido por Denise está sempre em xeque no palco, dividido entre o silêncio da voz (quando o que grita é o corpo da atriz, detentor de um domínio técnico bastante rigoroso) e o discurso caudaloso, a deferência a alguns resíduos literários e dramatúrgicos (Borges e

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