Muro de preconceito

Muro de preconceito
4ª Marcha Nacional contra a Homofobia em Brasília (Agência Brasil)

 

Em 2016, 343 LGBTs foram assassinados no Brasil, segundo relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB), produzido anualmente há 37 anos. Somos o país que mais mata lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros no mundo. O número revela a realidade de opressão, discriminação e violência a que são submetidos milhares de jovens brasileiros todos os dias nas escolas, nas universidades e na sociedade em geral.

Pesquisa da Unesco realizada em 2004 mostrou que as escolas não sabem
lidar com alunos gays. Há um muro de preconceito. Outro estudo encomendado pela Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo atesta que 29% dos entrevistados declararam ter sofrido preconceito na universidade.

Esses são exemplos explícitos da realidade vivida por pelo menos 10% da
população brasileira, ontem e hoje. Gays, lésbicas, bissexuais, travestis e
transexuais têm sido alvo constantes de violência física e psicológica.

Pouco podemos fazer contra isso, a violência é institucional. Não existem
leis federais que criminalizam a homofobia, permitindo que atos como os
acima mencionados continuem ocorrendo, norteados por uma cultura
intolerante de uns, e pelos fundamentalismos de outros.

O fato é que, por mais que falemos de declaração universal de direitos humanos, princípios, tratados e protocolos internacionais, a violência tem sido política estrutural e consciente do sistema que governa nosso planeta.

Os mesmos princípios que criam trabalhadores escravos, mulheres vítimas de violência doméstica, racismo explícito, trabalho infantil e fome no mundo também são responsáveis por algo além do analfabeto político.

É preciso entender, de uma vez por todas que a discriminação e a violência não são erros ou atos impensados. São eixos de um projeto social que consegue conceber direitos apenas para poucos – os poucos que vivem no centro, que não são atingidos pela miséria, pelas crises e pela violência.

Luana, mulher negra lésbica brutalmente assassinada em Ribeirão Preto, não vivia no “centro”, assim como milhares de mulheres, operários, negros, estudantes e deficientes físicos. Pixote não estava no centro quando morreu. As 111 vítimas do massacre do Carandiru também não. Eldorado de Carajás sempre esteve longe do centro.

O centro está em Copacabana, Jardins, Morumbi, Cambui. E ali habitam os sócios do pequeno clube: homens, brancos, heterossexuais, cristãos, ricos e esteticamente perfeitos pelo padrão da metrópole.

Nossas relações são marcadas pela opressão de classe social, gênero, raça
e orientação sexual. Enquanto não entendermos isso não haverá avanço,
apenas retrocesso. O governo brasileiro estava avançando com o Programa
Brasil Sem Homofobia, que tem servido de modelo para diversos outros
programas estaduais e municipais.

Infelizmente, para acabar com a LGBTfobia será necessário mais que a
criação de Centros de Referência e unidades móveis pela cidade. É preciso
coragem para ver que a estrada não termina aí e vai muito além do se que
vê.

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