Eduardo, 10 anos, assassinado pelo Brasil
Luto e indignação diante do assassinato de Eduardo de Jesus Ferreira, mais uma vítima do extermínio da população negra e pobre
Há muito para se pensar, dizer e fazer a partir do assassinato de Eduardo de Jesus Ferreira pela PM do Rio de Janeiro no Complexo do Alemão neste começo de abril.
Nada do que se pense, se diga e se faça resultará em justiça para Eduardo, morto brutalmente aos dez anos de idade. Todos sabem disso.
Todos os que o mataram, sabem mais ainda.
Douglas Rodrigues, 17 anos, assassinado em 27 de outubro de 2013, segundo antes de morrer conseguiu perguntar ao policial que o matou: “Por que o senhor atirou em mim?”.
Nenhum deles e muitos outros que são mortos pela polícia nas favelas e periferias das cidades merecia morrer. Ninguém merece morrer. Todos os que morrem ou estão marcados para morrer fazem parte de um projeto de extermínio da população negra e pobre. Todos sabem disso.
Todos os que os mataram, sabem mais ainda. E se regozijam com sua capacidade de matar.
Rosana Pinheiro-Machado escreveu um excelente artigo no qual mostra o nexo entre a morte de Eduardo e a diminuição da maioridade penal. Nele, ela conta a história de Kiko, que “não nasceu bandido”. Recomendo que o leiam e pensem: quem é mais bandido, o menino ou o Estado que o abandona?
Podemos continuar perguntando à polícia, ao Estado, a cada deputado que apoia a redução da maioridade penal “por que o senhor atirou em mim?”. Podemos perguntar a cada cidadão politicamente analfabeto que se esconde atrás da boçalidade da opinião fascista dominante por que é capaz de defender uma medida como essa no seu dia a dia.
Perguntar não salvará a vida das crianças nas favelas.
Uma pergunta, um questionamento demora muito tempo para ser elaborado. Demora para ser ouvido, demora mais ainda para que seu sentido possa ser percebido em tempos de vazio do pensamento.
Um tiro, contudo, é instantâneo.
Nenhuma pergunta, salvará os meninos pobres e negros que estão na mira do Estado genocida que tem na PEC da diminuição da maioridade penal a sua nova arma. O sistema de exclusão ao qual populações imensas estão condenadas especializa-se a cada dia e quem se sente a salvo, por não ser negro e não ser pobre, nega-se a perguntar.
O alvo, neste momento, são pobres e negros.
Os indesejáveis nunca são muito diferentes entre si. Quem não interessa a uma sociedade de consumo pode ser descartado. Pode ser Eduardo, posso ser eu, pode ser você.
Eduardo foi assassinado pelo Brasil na figura de um policial que, forjado pelo sistema de exclusão, mas estando do lado do poder que exerce a violência, aprendeu a matar meninos como Eduardo. Pode ser que ele não sinta nenhum ódio desse menino. Mas ele pratica a política do ódio em nome do Estado e em nome de uma população que se tornou incapaz de olhar para si mesma.