Editora de alunos da USP recupera obras raras ligadas à produção editorial brasileira

Editora de alunos da USP recupera obras raras ligadas à produção editorial brasileira

Tipos móveis utilizados para impressão de textos (Foto: Reprodução)

Paulo Henrique Pompermaier

A Com-Arte, editora laboratorial da ECA-USP, está em processo de recuperação de duas obras raras que compõem a história da editoração no Brasil: Manual do jovem aprendiz compositor, de 1888, e Dicionário de termos gráficos, de 1936.

A primeira, uma tradução de um manual para iniciantes na tipografia traduzido pelo pai de Lima Barreto, João Henrique de Lima Barreto,  foi publicado originalmente em 1871 na França pelo tipógrafo Jules Claye.

Paginador do jornal Tribuna Liberal e tipógrafo da Imprensa Oficial do Rio de Janeiro, Barreto conhecia todos os processos de composição tipográfica devido ao tempo que estudou no Imperial Instituto Artístico, no Rio.

Dicionário de termos gráficos é considerado o primeiro dicionário gráfico publicado no Brasil. Lançado em 1936, em Salvador, foi escrito pelo tipógrafo Arthur Arezio da Fonseca, que aglomerou ali verbetes de uma pesquisa que havia iniciado em 1910.

Ambos os lançamentos fazem parte da coleção “Memórias tipográficas”, que há aproximadamente três anos se dedica a recuperar e publicar raridades relacionadas à história editorial brasileira.

“Há um público interessado [nesse tipo de publicação], que trabalha com jornalismo e com editoras”, afirma o professor de editoração da ECA e responsável pela Com-Arte, Plínio Martins. “Eu sou tão fissurado em livros que só leio ficção se o livro tratar também de livros.”

Livros sobre livros

Nos últimos anos, a editora tem se dedicado à criação de uma “memória do que é o mundo editorial” e por isso dá atenção especial a figuras como Arezio, de quem já publicou três livros – entre eles Serões tipográficos e Revisão de provas tipográficas. Manuais de revisão do século 19 também estão sendo estudados pela equipe.

No catálogo, há mais de 500 títulos. A “Memórias” é apenas uma das coleções da editora, que foi criada há quase 40 anos como espaço laboratorial para os alunos do curso de editoração da ECA-USP, e que até então não encontravam lugar no mercado para desempenhar esse tipo de atividade.

Eles ainda são responsáveis por todas as etapas do processo de edição: pesquisa, notas, textos sobre os autores, prefácios, apresentações e atualização dos textos.

Outras coleções da Com-Arte, que tem seus livros publicados pela Edusp, são a “Editando o Editor”, que coleta depoimentos de editores famosos e undergrounds; “Memória Editorial”, com estudos sobre a história das editoras; e “Reserva Literária”, que publica livros de domínio público para os alunos treinarem edição.

A intenção é continuar privilegiando os “livros sobre livros”, segundo Martins. “Se uma editora pública não faz [esse trabalho] quem vai fazer? Nosso objetivo não é comercial, mas histórico e cultural.”

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