dossiê O Estado da Cultura | Apresentação
Detalhe da obra “Cantos de esquinas” (2019), de Maxwell Alexandre
Em verso de sua popular canção “Beleza pura”, o cantor e compositor Caetano Veloso afirma “não me amarra dinheiro, não; mas a cultura”. Aí estariam, aparentemente, tanto a ideia de que a cultura se opõe à sua mercantilização e à sua organização em indústrias quanto a de que a cultura prescinde do dinheiro. Trata-se de uma noção de autonomia do campo da cultura em relação ao da economia construída pela modernidade e de sua mitologia sobre originalidade nas artes, autoria e o caráter especial dos artistas quanto aos demais profissionais que constituem a classe dos trabalhadores e das trabalhadoras no modo de produção capitalista.
Essa noção virou senso comum difícil de desconstruir. E desse senso comum decorrem as contraditórias e equivocadas aceitações, por parte de políticos e seus eleitores, de que 1) uma prefeitura pague a um famoso cantor sertanejo um cachê que equivale praticamente ao orçamento destinado aos serviços de saúde do município; e de que 2) não é necessário pagar nada pelas apresentações de uma companhia de teatro ou de um escritor locais e sem fama porque a tais artistas e intelectuais bastariam os aplausos. Nada mais improdutivo e injusto do que um imaginário assim em relação à cultura e a seus/suas trabalhadores/trabalhadoras. Sua persistência no Brasil – país com uma potente diversidade cultural – é sintoma do quanto o campo da cultura é historicamente negligenciado pelo Estado e parasitado pelo mercado. É possível mudar essa realidade e se chegar a políticas públicas perenes que c
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