Dossiê | Como a filosofia pensa o cinema?
Se o cinema é uma experiência limítrofe por excelência, o limite é o lugar onde se dá o pensamento (Arte: Andreia Freire/Revista CULT)
O cinema tem uma natureza contraditória que não cessa de perturbar e de surtir efeitos tortuosos naqueles que o teorizam, sobretudo porque concentra, como nenhum outro meio artístico, os problemas caros à modernidade e a seu esgotamento.
Tomemos, primeiro, a questão da técnica. A imagem cinematográfica, de matriz fotossensível, ao menos a princípio, conjuga a possibilidade de reprodução da realidade com o estatuto artificial de seu próprio fazer, ou seja, opera entre “ser” e “aparência”. E isso – com a licença da expressão – é mais complicado do que parece, convoca antigos e novos debates sobre materialismo e idealismo, fenomenologia e ontologia. Um enredamento também desponta ao concebermos a montagem que, mediante a justaposição de cortes e sequências, modulando choques e durações, mostra não o tempo em si, mas a percepção temporal. Há aqueles, ainda, como André Bazin, para quem a montagem deveria ser proibida. E aqueles, como Serguei Eisenstein, para quem a montagem consistiria no núcleo duro da cinematografia. Exageros retóricos à parte, essa polarização remete ao mesmo complexo, então representado pelo binômio realismo e formalismo.
Quanto à linguagem, o cinema é, sem dúvida, impuro, o que no entanto nem sempre constituiu consenso entre teóricos e cineastas. Jean Epstein, por exemplo, cunhou o termo fotogenia para designar a particularidade do cinema, algo da ordem do imponderável, intimamente ligado ao movimento, por um lado, e ao plano próximo, por outro – não adviria daí o conceito de imagem-afecç
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