Do genital mutilado ao culto do falo

Do genital mutilado ao culto do falo
Amuleto fálico greco-romano de bronze (Wellcome Collection)
  Muitos autores, inclusive os filósofos Maurice Merleau-Ponty e Philip Rieff, enfatizaram a ambiguidade essencial que perpassa o discurso freudiano sobre o sexo, dividido entre um reducionismo extremo às partes anatômicas do corpo material e uma vertiginosa ampliação de significado, que permite que toda a existência e todas as relações sociais sejam encontradas nessas mesmas partes anatômicas. O “falo” não é exceção; na verdade, é o paradigma dessa duplicidade. Trata-se, em todos os sentidos, de um pênis ereto e que, ainda assim, não pode ser localizado na realidade material. Não é nem mesmo uma simples imagem de um pênis ereto, como são os amuletos da cultura popular, que sempre foram usados para afastar a má sorte e desejar boa fortuna. No discurso freudiano, o horizonte do qual emerge o significado do falo é, de fato, a “castração”. É o horror da castração que legitima a “primazia do falo”. Freud construiu um sistema de pensamento no qual a castração – no sentido psicanalítico, ou seja, a ablação imaginária do pênis – é o símbolo de todos os traumas possíveis. Ele elevou a castração a uma forma a priori da pensabilidade do trauma e fez da ameaça de castração “o trauma mais grave” na vida de uma criança. Dentro desse sistema de pensamento, o falo, como a imagem do pênis inteiro, é antitraumático por excelência. Entretanto, diferentemente dos amuletos da cultura popular, o falo não apenas exorciza a “castração” (à qual se reduz toda má sorte), como, ao mesmo tempo, não pode deixar

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