Dionisíacas em Viagem
Aos 73 anos de idade, José Celso Martinez Corrêa está há 51 anos à frente do Teatro Oficina e pretende continuar “produzindo uma revolução no teatro mundial, não só no brasileiro”. Fugindo da produção careta, Zé Celso procura todos os tipos de público, desde os “burocratas, burgueses e especuladores, que são pessoas miseráveis, mesmo sendo ricas e poderosas”, até os que nunca tiveram acesso a espetáculos teatrais, por meio de ideias como Dionisíacas em Viagem, projeto itinerante que percorre oito estados brasileiros em dez meses. Em julho, os 57 integrantes da companhia que fazem parte da turnê passam por Pernambuco (Recife) e Pará (Belém). Zé Celso conversou com a CULT sobre as apresentações do Teatro Oficina Uzyna Uzona, que reúnem um público de 2 mil a 25 mil espectadores.
CULT – Como foram escolhidas as peças que fazem parte do projeto?
Zé Celso – São quatro peças que têm uma ligação muito grande entre elas. Começa com o Taniko, que é um nô japonês [forma clássica de teatro japonês, que mistura música e poesia] em homenagem à imigração japonesa e também a João Gilberto. Uma das peças começa com o aneurisma de Cacilda Becker [a atriz sofreu um aneurisma cerebral em pleno palco e morreu aos 48 anos, em 1969], depois ela volta à infância, então, são quatro peças sobre os 40 dias em que ela ficou em coma. Tem Bacantes, que é o nosso maior sucesso e está em cartaz desde 1996. Quando Zeus desce à Terra vestido de Fidel, se apaixona pela mãe de Dionísio, que é uma mortal, e faz um filho com ela. Essa peça é uma crítica muito carinhosa a Cuba e ao Fidel, à esperança de que ele espalhe a democracia. Depois, há O Banquete [na foto], que é dado para comemorar a vitória nas Dionisíacas. É como se as pessoas fossem convidadas a participar de um banquete sobre uma peça que elas viram.
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CULT – No projeto itinerante, a peça é apresentada para um público que varia de 2 mil a 25 mil pessoas. Como é trabalhar com um público que geralmente tem pouco acesso à cultura?
Zé Celso – É maravilhoso, porque nós fazemos teatro para todos. Nosso teatro não é feito para determinada faixa etária ou para um público especial. Teatro é uma arte que é boa para qualquer ser humano. Sempre fazemos peças visando mesmo aos que nunca foram ao teatro, porque eles são os portadores da cultura mais universal. Não temos problemas com esse público, temos até mais problemas com o público que está acostumado com um teatro mais careta, que às vezes não tem energia física para aguentar o que nós fazemos, fica chocado, é careta. Mas as peças são para esse público também, inclusive a proposta é romper. Eu gostaria de fazer espetáculos para o Exército, a Marinha, a Aeronáutica, para os burocratas, burgueses, especuladores, porque são pessoas miseráveis, mesmo sendo ricas e poderosas. Espiritualmente, essas pes- soas são paupérrimas, já que são presas aos papéis que a dominação exige, pelo capitalismo, pelas oligarquias. Eu gostaria de atingir essas pessoas também, porque, se não atingi-las, o mundo não muda.
CULT – Quanto há de Dionísio no senhor?
Zé Celso – Eu não sou senhor, porque eu não tenho escravos. Eu sou dionisíaco. Chamo São Paulo de São Pan, porque pan é tudo, tem a sensação de conjunto das coisas. Eu, como diretor, tenho essa sensação de conjunto, mas sou ator também. Então, preciso ter o fogo dionisíaco e, ao mesmo tempo em que sou ator e diretor, sou plástico, saco de luz, de espaço cênico, de arquitetura, de urbanismo, então, eu sou equilibrado.
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