Dinheiro não é capital, elite não é classe

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Dinheiro não é capital, elite não é classe
Detalhe da tela A luxúria pelo ouro (1844), de Thomas Couture (Wikimedia Commons)
  Atese de Freud sobre o dinheiro é simples, contundente, e permanece, até nossos dias, uma grande intuição clínica, ou seja: as pessoas lidam com o dinheiro da mesma forma como lidam com a sexualidade. A pertinência dessa tese depende, naturalmente, do que entendemos por lidar com. A ideia talvez tenha sido sugerida pela palavra alemã commertz, que significa tanto comércio, por exemplo trocas de bens e serviços, envolvendo ou não dinheiro, quanto atividade sexual. Nas primeiras traduções de Freud ao português, encontrávamos frequentemente a expressão comércio sexual para designar relação sexual. Isso assinala o caráter troquista da teoria psicanalítica das relações, no interior da qual relacionar equivale a trocar. Por trás dessa asserção, remanescem inúmeras associações culturalmente determinadas. Algumas pessoas entendem que o dinheiro é algo sujo, como o sexo. Outras, que a sexualidade deve ser vivida em segredo, como a riqueza armazenada no cofre. Alguns são dadivosos, outros avarentos com os prazeres, próprios ou alheios. Há ainda as que sentem que o dinheiro pertence a uma esfera extremamente íntima, que não deve jamais ser devassada. As pessoas inventam metáforas e nomes indiretos para os genitais, como periquita, bráulio, bilau ou perereca, assim como proliferam termos alegóricos e alusivos para designar o dinheiro, tais como bufunfa, grana, din-din ou cascalho. Esse fator de indução metafórica toca a qualquer objeto ao qual atribuímos valor, ou, mais precisamente, usamos como equivalente para produzir compara

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