No Dia do Escritor, autores contam como é escrever

No Dia do Escritor, autores contam como é escrever

 

 

 

Em 25 de julho de 1960, o então ministro da educação e cultura do governo Juscelino Kubitschek, Pedro Paulo Penido, criou o Dia Nacional do Escritor. Penido quis homenagear o I Festival do Escritor Brasileiro, organizado pela União Brasileira de Escritores (UBE), no Rio de Janeiro. O evento ocorreu na mesma data. Já a celebração em nível mundial é realizada em 13 de outubro.

No Brasil, o Dia do Escritor também é uma oportunidade para refletir sobre a proteção dos direitos de autor e as dificuldades pelas quais os escritores passam no país. Não é fácil ser escritor e é muito mais difícil ser escritora. 

O estudo do Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea da Universidade de Brasília (UnB), de 2018, concluiu que o perfil majoritário é homem, branco, de classe média, nascido no eixo Rio-São Paulo. E o padrão se estende para narradores, protagonistas e coadjuvantes, que são em sua maioria homens, também brancos, de classe média, heterossexuais e moradores de grandes cidades.

“O que me motivou a escrever foi a poesia, foi o teatro. Com 9 anos de idade, li um poema de Manuel Bandeira. Quis ser Bandeira. E quis a falta de saúde dele. E o teatro que fiz na escola, no Recife, também aos 9 anos, me motivou a inventar personagens, a criar diálogos, a pensar na luz, na sombra, no ar da palavra. Aos 14 anos eu já tinha uma peça encenada no meu bairro. Até hoje o que escrevo é poesia, o que escrevo é teatro”, conta o escritor Marcelino Freire, criador da Balada Literária, festa que discute escritores e artistas com uma proposta de valorização para a literatura.

Para celebrar a data e entender mais sobre a beleza do ofício, Cult perguntou para alguns escritores (as), o que significa escrever para eles. Abaixo, confira as respostas de Marcelino Freire, Veronica Stigger, Eliane Potiguara, Fabrício Corsaletti, Micheliny Verunschk, Tito Leite, Jarid Arraes e Milton Hatoum.

 

“Escrever é uma resposta que eu procuro e não encontro. Sabe uma criança perdida? Escrever é procurar eternamente uma criança perdida. Busco, busco. Isso foi ontem, é hoje, será amanhã.”
Marcelino Freire

 


“Escrever, para mim, é uma forma de preservar a lembrança do que passou. Nisso, estou com o personagem Bopp, de Opisanie świata: escrevemos para não esquecer ou para fingir que não esquecemos. O escritor é uma espécie de guardião da memória: ele lembra, por alguma razão, aquilo que todos esqueceram.”
Veronica Stigger

 


Literatura Indígena e nativa vem das entranhas da Terra, é o grito sufocado dos que precisaram emudecer, explodindo no ar seu verbo colorido como se fora uma grande bolha de água cristal-celeste. É a explosão dos séculos e a nova forma de pensar, agir e decidir. Deixem-me dizê-la, por favor! E creem em mim como a luz do sol, como a essência da alma. É a manifestação “apressada” da Identidade indígena, que por sua vez é a manifestação do Cosmo através da ancestralidade.”
Eliane Potiguara

 


“Escrever é o contrário de se alienar. É uma das maneiras mais eficazes de tocar a realidade (seja lá o que isso signifique) ou a própria imaginação.”
Fabrício Corsaletti

 

 


Comecei a escrever as primeiras histórias, poemas, letras de música, ainda na infância. E cresci cercada pela palavra e tendo como norte a noção de que esta palavra, trabalhada pelo labor literário, era algo de extrema importância para mim, me colocava de pé diante do mundo. Sigo acreditando nisso e escrevo porque é o que faço de melhor, porque é minha forma de responder à vida.”
Micheliny Verunschk

 

 


“Só devemos escrever o necessário, o que for impossível não escrever. E é por isso que a gente escreve, quando o desejo de escrever prevalece sobre o silêncio. Quando isso não acontecer é melhor silenciar, e é preciso ter coragem para silenciar também. Raduan Nassar é um corajoso, não tinha mais nada a escrever e parou, o que não deixa de ser admirável.”
Milton Hatoum

 

“Escrever é a forma que eu encontrei para dialogar com os meus espantos, com as minhas questões e também para dialogar com o mundo. Eu comecei a escrever porque eu sou monge Beneditino. Eu moro no Mosteiro e eu tenho uma vida de clausura. A escrita foi a forma que eu encontrei para dialogar com as questões que surgem no mundo. Essas questões que nos causam indignação e que nos revoltam e também outras questões. A escrita é diálogo, é a forma que eu tenho para dialogar comigo mesmo, com as minhas dúvidas e com o mundo externo. Então, escrever é uma forma de encontro.  Uma forma de buscar bons encontros e ao mesmo tempo não apenas buscar bons encontros, mas também de adentrar o real. É mostrar a realidade tal como ela é.”
Tito Leite

“Escrever é chafurdar nos incômodos mais penosos e insistentes. É encarar a sujeira, a feiura, o terrível, e sustentar o olhar.”
Jarid Arraes

 

 

Leia mais

 

Quem é e sobre o que escreve o autor brasileiro

“O Brasil é incapaz de refletir sobre seu passado”, diz Julián Fuks

Por que gostamos de Elena Ferrante?

Deixe o seu comentário

TV Cult