Determinismo biológico revisitado
"Convenções culturais dominantes supõem que a verdade de nós mesmos estaria em algum lugar do corpo" (Arte Revista Cult)
Um dos efeitos das políticas de cotas para as pessoas negras nas universidades foi a produção de discursos sobre raça e exclusão social como poucas vezes se observou em nossa história. Em uma conversa com uma amiga antropóloga que se negava a concordar com políticas públicas baseadas na noção de raça, eu lhe perguntei: “Então, você também é contra as políticas para as mulheres?”. E ela, como feminista combativa que é, me respondeu, “claro que não”. Quais as relações entre gênero e raça? Não seria uma contradição negar políticas públicas para os/as negros/negras e concordar com políticas para as mulheres?
Um raciocínio corriqueiro: é claro que a mulher é diferente do homem e por essa diferença foi excluída. Daí ser necessário fazer políticas reparadoras e específicas para as mulheres. Estes argumentos esquecem que a invenção do dimorfismo e a produção do feminino como portador de uma diferença inferiorizada em relação ao homem estiveram assentadas no pressuposto (dito de base científica) de que mulheres e homens são naturalmente diferentes. Portanto, a construção assimétrica e hierárquica dos corpos na ordem binária do gênero compõe o dispositivo discursivo chamado “determinismo biológico”. A tríade que sustenta esse dispositivo é a raça, o gênero e a sexualidade. As relações entre gênero/sexualidade e sexualidade/raça têm pontos semelhantes com a discussão que farei aqui, mas têm especificidades que merecem uma reflexão que ficarão para outro momento.
Pegando carona no argumento que
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