Desilusão amorosa
Detalhe da tela Ciúmes (1907), de Edvard Munch
Qual o contraste do amor? No pensamento colonial, o binarismo ordena o mundo e assim o divide, daí a importância de pensarmos qual seria a outra face do amor. Em outras palavras, Frantz Fanon dizia que o mundo colonial é dividido em compartimentos. Em outras palavras ainda, Mestre Antônio Bispo, Judith Butler, Gloria Anzaldúa e outros pensadores/as também sinalizaram que o binarismo sustenta toda a lógica colonizadora.
Binarismos como natureza e cultura, corpo e mente, carne e alma, humano e animal, selvagem e civilizado, céu e inferno são exemplos da compartimentalização que, embora pretenda fazer uma descrição neutra da realidade, em verdade, inventa as mesmas cisões que descreve.
Friso aqui que binarismo não é o mesmo que dualidade, uma vez que, diferentemente desta, aquele se estabelece por meio de uma hierarquia, de uma desigualdade intrínseca que produz violências. Há aí algo parasitário, afinal, para que o humano se afirmasse como superior aos demais seres, precisou atribuir aos outros bichos tudo aquilo que avaliou como negativo; para o civilizado se afirmar evoluído, inventou para nós uma identidade genérica na qual há todo tipo de primitivismo e selvageria; para que a vida futura fosse apresentada como superior, esta vida teve de ser menosprezada.
Estou falando disso tudo para dizer que, em um território colonizado como este no qual vivemos, também o amor é parte dos binarismos e um de seus contrastes é o sexo. Enquanto o amor é civilizado, o sexo é selvagem, enquanto o amor é sublime, o sexo é mundano, enquanto
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