Deleuze e nós
Detalhe da tela “Cabeça VI, 1949”, de Francis Bacon (Reprodução)
Esse título é plágio da fórmula “Espinosa e nós”, presente em um pequeno texto escrito por Gilles Deleuze em 1978, retomado em 1981, no final de seu Espinosa: filosofia prática. A fórmula era assim entendida: “nós no meio de Espinosa”. E se há um nós no meio de certo filósofo, no meio das vagas e labaredas de suas obras, é porque seu pensamento conceitual continua capaz de atrair nossas interferências, justamente por força de tudo que acontece em seu meio. Evidentemente, esse nós não sugere unanimidade intelectual ou de sentimentos. No mínimo, é um plural de convergências e divergências dos mais diversos matizes. E cada um desse nós, aventurando-se como pode, retoma a pergunta: o que acontece no meio de Deleuze?
Acontecem afetos afirmativos, sente-se no rosto um novo frescor e novos ardores, nova maneira de termos encontros até inocentes com o pensamento, sem o cultivo da morte da metafísica ou do fim da filosofia. Nesse meio, evitamos o hábito do obituário e a presunção dos transcendentes. Por que esse meio de Deleuze nos livra disso e mantém viva uma interessante possibilidade do pensamento filosófico? Não só pela perspicácia, pelo humor e até pela beleza de muitos dos seus textos, nem apenas pelo aspecto saboroso de alianças que ele estabelece ao longo de uma quebradiça história da filosofia. Sim, história quebradiça, porque, ao invés de condenada a blocos da monotonia cronológica, essa história pode ser aberta a viagens plenas de vigor, tão rigorosas quanto intensas. E quando ela se abre assim nesse meio? Qu
Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »