De volta à festa
Cena do documentário São Paulo em Hi Fi, de Lufe Steffen (Divulgação)
Em 2014, me chamou a atenção a presença de três filmes brasileiros no festival de Berlim e um recorde de inscrição de longas metragens brasileiros no festival Mix de Diversidade Sexual, segundo seus organizadores. Ainda durante todo o ano de 2014, paralelamente aos movimentos sociais associados à Copa Mundial e às eleições, com o aumento de tensão entre discursos religiosos fundamentalistas e militantes LGBT, vários filmes despertaram um debate crítico intenso, como Tatuagem (2013), de Hilton Lacerda, ou Doce amianto (2013), de Guto Parente e Uirá dos Reis, Praia do futuro (2014), de Karim Aïnouz, Hoje eu quero voltar sozinho (2014), de Daniel Ribeiro, apenas para mencionar os mais conhecidos. Há ainda toda uma geração de jovens cineastas, vários deles sem terem ainda realizado longas, para quem um olhar queer, para além das formas normativas das hétero e das homossexualidades, poderia trazer uma forma distinta de compreensão sobre as sexualidades. Esta é a minha aposta neste artigo.
Penso no curta Mauro em Caiena (2012), de Leonardo Mouramateus. Ao supostamente escrever uma carta ao tio que mora em Caiena, na Guiana Francesa, o diretor refaz os dilemas do presente entre ficar ou partir de Fortaleza, cidade onde mora num bairro de periferia, e estabelece uma genealogia, a princípio, masculina e dentro da família, que remete ao tio e ao primo mais novo. Genealogia que chamarei de queer, estranha. Estranheza presente não só na partida do tio para Caiena, mas, sobretudo, na identificação do narrador com Godzilla e do primo com um cachorro
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