Da nossa violenta natureza
O encontro fabular entre o sapo e o escorpião (Reprodução)
O escorpião pede ao sapo que o ajude a atravessar o rio. Montado em suas costas, o escorpião não se afogaria. O sapo retruca que se assim o fizer, o escorpião certamente o picaria e o mataria. “Eu sou escorpião, não burro”, disse o próprio, “se te matar, morro”. Achando o argumento razoável, lá foram eles. No meio da travessia, porém, o sapo sente a picada fatal e perplexo exclama: “mas, por que você fez isso!?”. E o escorpião: “É da minha natureza...”.
E a nossa, a dita “natureza humana”, é assim violenta? Mais de um invoca Hobbes para sentir-se justificado ou consolado frente a atos hediondos e que curiosamente são também qualificados de “antinaturais” (aqui é a sombra de Rousseau que se perfila). Com Hannah Arendt também podemos nos perguntar, perplexos, por que sociólogos insistem em estudar formigueiros para entender o comportamento humano nos cortiços, se bastam algumas horas de convívio nessas habitações para entender tudo. Em todo caso, não se sabe se tratam as formigas como se fossem humanas ou os humanos como se fossem formigas.
A expressão “natureza humana” comporta dois equívocos, um conceitual, o outro lógico. Conceitual pois a definição de natureza é cultural. De outro modo, somos seres de linguagem, o pensamento a pressupõe e não temos outra natureza. Não saímos dela nem ao conceber o que lhe seria prévio ou exterior. E cultura é outro nome da ordem simbólica que nos constitui. Conceber uma materialidade biológica dada anterior não passa de um mito. Lógico, pois falar em natureza hu
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