Caco Galhardo participa do Cultura Inglesa Festival
O cartunista Caco Galhardo assinará a exposição Notas sobre um sonho (Arquivo Pessoal)
É a primeira vez que a seleção de artes visuais do Cultura Inglesa Festival contempla o projeto de um quadrinista. “Vemos um crescimento da participação de quadrinistas que fazem uma reflexão crítica da sociedade, e admitir um artista como ele é reconhecer essa importância”, comenta Fábio Cypriano, um dos curadores do festival. A exposição Notas de um Sonho, de Caco Galhardo, une comédia, teatro e desenho em uma leitura da obra clássica de William Shakespeare, Sonho de uma noite de verão. Ela fica aberta ao público entre os dias 25 de maio e 16 de junho no Centro Britânico Brasileiro.
Em entrevista à CULT, o paulistano Caco, 51 anos, conta que começou a desenhar “igual toda criança começa: rabiscando, lendo gibis. Para algumas pessoas isso passa na adolescência, pra mim não passou.” A carreira “oficial” se iniciou com as publicações no fanzine Xerox, do escritor Rogério de Campos, entre meados dos anos 1980 e 1990. Trabalhou também como redator da MTV e escreveu quadros para o programa Casseta e Planeta Urgente. Em 1997, seus personagens “Os Pescoçudos” ganharam espaço entre os quadrinhos da Folha de S.Paulo, veículo com o qual colabora até hoje. Caco faz roteiros para a televisão, peças teatrais e ilustrações para livros. E também exposições. Leia entrevista completa abaixo.
Como surgiu a ideia de se inspirar em Shakespeare?
Eu sempre tive uma ligação muito forte com o teatro e Sonho de uma noite de verão é um dos meus textos favoritos. Quando surgiu o edital eu sabia que tinha que haver uma relação com algo britânico, digo, alguma relação com a cultura daquela ilha. O teatro é um tipo de arte que está no meio de várias artes e escolhi essa peça porque ela é muito rica em imagens: tem a coisa do onírico e do fantástico, com as fadas, mas também tem um humor. Os diálogos entre os personagens são bem divertidos. Eu quis incluir trechos e citações ao longo da exposição.
Qual é a diferença entre desenhar para um veículo diário e para uma exposição?
Meu primeiro contato com esse “mundo” das artes plásticas foi com a exposição Elisabeta, na Galeria Emma Thomas. É a história de uma personagem russa muito doida que vem por engano ao Rio de Janeiro; eram desenhos em nanquim. A exposição Notas de um sonho vai ser diferente por ocupar um espaço expositivo enorme. Eu vou pintar um mural ali mesmo. Isso é muito legal, essa coisa de mexer com a tinta, sabe? Num jornal é o oposto, as tiras são o menor espaço possível e a gente usa muito o computador.
O que podemos esperar da exposição? Muitas risadas ou muitas lágrimas?
Os textos de Shakespeare são muito atuais. Tem frases que a gente lê e pensa: “ele podia ter escrito isso ontem.” Eu quis fazer uma ponte entre o teatro, a comédia e o desenho. Queria que ficasse bonito. Acho que as reações do público vão ser bem pessoais, não gosto quando criam muitas expectativas, porque normalmente elas se frustram (risos). Não sei o que o público vai pensar, mas, pra mim, essa exposição vai ser um jeito de celebrar esses vinte anos que passei desenhando. Ela vem junto do lançamento do meu novo livro, uma coletânea que será lançada pela Companhia das Letras no final desse mês. Chama-se “Cinco mil anos.”
Você sabia que é o primeiro cartunista a participar do Festival?
Eu nem sabia que eles selecionavam cartunistas. Eu entrei no edital, mas pensava que não iriam me escolher, que iriam preferir alguém das artes plásticas mesmo (risos).
Os curadores estão animados com a sua participação. Qual você acha que é o papel do cartunista na sociedade hoje?
Quando se produz pra um jornal diário é impossível fugir de política, apesar de eu odiar política, sobretudo quando ela entra na nossa vida com tanta agressividade e intensidade, fazendo famílias brigarem e coisas do tipo. Mas quando você vai ler as notícias hoje para desenhar uma tira, muitas vezes a piada simplesmente está ali, pronta, infelizmente. Sendo um cartunista, não tem como não se posicionar.
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Serviço 23º Cultura Inglesa Festival
Quando? De 24 de maio a 16 de junho de 2019
Quanto? Entrada Gratuita
Programação e informações no site: https://cultural.culturainglesasp.com.br/