Cultura decorativa

Cultura decorativa
A filósofa Marcia Tiburi (Foto Simone Marinho / Divulgação)
  É preciso introduzir na filosofia o conceito de decoração. Pode parecer irônico, mas um princípio decorativo rege a cultura e a ontologia atual, ou seja, nosso ser, no sentido em que esse “ser” é um “modo de aparecer”. Por cultura da decoração podemos definir de modo fácil a hipervalorização da aparência no contexto da sociedade do espetáculo. Ela se confunde com a cultura fashion das passarelas e revistas de moda, com o mundo das lojas e revistas de decoração e até mesmo com o tratamento dado aos corpos plastificados e siliconizados no dia a dia. A cultura decorativa transforma tudo em plástico, reduzindo os hábitos culturais ao ato de enfeitar. Das roupas às casas, dos carros aos móveis, as pessoas praticam a decoração como “enfeitamento”, como ornamentação. Se trata, no caso da decoração, de uma cultura cosmética em que a camuflagem é a regra: se escondem desde os cabelos brancos à mancha no sofá, das rugas à toalha encardida, da barriguinha ao vermelho na conta bancária. Na cultura da decoração a tapeação e a camuflagem são regras. O padrão do gosto do “novo rico” que precisa, mais que ser rico, parecer rico, é a sua expressão maior. Não basta comprar, é preciso deixar claro que se tem capital para consumir: roupas de marca, joias, bolsas, carros, viagens a Disney e até obras de “arte”. Daí o sucesso, entre certas “classes culturais” das artes decorativas, tais como as conhecidas estamparias de Romero Britto. Ora, o princípio decorativo tem relação com tudo isso. Ele diz respeito a

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