Crônica de uma prisão arbitrária

Crônica de uma prisão arbitrária
Preta Ferreira: a maioria das pessoas que eu conheci na prisão tinha a carne preta (Foto: Thiago Santos)
  Às seis horas da manhã do dia 24 de junho de 2019, policiais com armas em punho chegaram à casa de Preta Ferreira, na rua Santo Antônio, na Bela Vista, Centro de São Paulo. Os homens traziam um mandado de busca e apreensão e uma ordem de prisão preventiva, produzidos por um inquérito policial que havia também determinado interceptação do celular de Preta. Ela foi levada ao Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), na zona norte, e em seguida ao Centro de Detenção Provisória Feminino em Franco da Rocha, na região metropolitana. Foi o início de uma jornada de 108 dias presa, a maior parte do tempo na Penitenciária Feminina de Santana, até ela ser libertada no dia 11 de outubro, quando foi concedido o terceiro pedido de habeas corpus da defesa.  A prisão foi motivada por uma denúncia anônima enviada à Polícia Civil e repassada ao Ministério Público Estadual. Preta é uma das líderes do Movimento Sem-Teto do Centro (MSTC) e foi acusada de extorsão e de organização criminosa. Seu irmão Sidney Ferreira Silva também foi preso. No início daquele ano, a mãe deles, Carmen Ferreira da Silva, havia sido absolvida de acusações semelhantes. Parte dessa história – vivida por Preta – está no livro Minha carne: diário de uma prisão, lançado em janeiro pela editora Boitempo. O título é o mesmo de uma de suas canções.   “A maioria das pessoas que eu conheci na prisão tinha a carne preta”, relata. “E eu não podia sair em silêncio de uma prisão arbitrária e injusta.”     Produ

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