Fake news, crise epistêmica e epistemologia tribal
Crise epistêmica tem o selo de garantia de Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo (Arte Andreia Freire/Revista CULT)
Crise epistêmica. Esta expressão intrigante tem se tornado cada vez mais frequente no debate público e acadêmico sobre política, democracia e jornalismo, pelo menos desde 2016. À raiz de tudo, está o fato de que uma parcela cada vez maior de pessoas no mundo acredita surpreendentemente em um monte de histórias malucas, usando-as para tomar decisões políticas (escolhas eleitorais, apoios a políticas públicas) ou para fomentar a guerrilha política permanente entre lados e facções.
Afogando em mentiras
Mentir e inventar histórias é uma coisa que sempre fizemos bem, inclusive na política, mas talvez seja a hora de admitir que nunca tantos consumiram e distribuíram tantas mentiras sobre assuntos e fatos tão importantes como neste momento. E a incessante avalanche de fake news que vem recobrindo e transtornando eleições e referendos mundo afora é apenas o mais vistoso sintoma de que o mundo se está dissolvendo em mentiras e enganos.
Os casos de mentiras absurdas e histórias sem sentido, disseminadas a enorme velocidade, e com alcance e efeitos sem precedentes, multiplicam-se abertamente em ambientes políticos, acompanhando a crescente digitalização da vida e a intensificação do interesse e da participação política dos últimos anos em alguns países.
Não faz muito tempo, por exemplo, se espalhou em mídias sociais nos Estados Unidos uma história, depois conhecida como Pizzagate, segundo a qual os democratas tocavam um negócio de prostituição infantil a partir de uma pizzaria em Washington. A grotesca história, em circunstâncias
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