Corpos marcados

Corpos marcados
Conheça o livro de contos "Urgentes preparativos para o fim do mundo", do paulistano Inácio Araújo O paulistano Inácio Araujo é conhecido como crítico de cinema da Folha de S. Paulo. Mas não é o único ofício que ele exerce com grande competência. É também ensaísta (Hitchcock ­– O mestre do medo, 1982; Críticas de Inácio Araujo, org. Juliano Tosi, 2010); romancista (Casa de meninas, 1987; Uma chance na vida, 1989); roteirista (Amor palavra prostituta, 1981, e Filme demência, 1986, ambos com Carlos Reichenbach); diretor (“Aula de sanfona”, 1982, episódio do filme As safadas), além de ter trabalhado com montagem. Digo isso, que nem todos sabem, para acrescentar que é também contista de primeira, como demonstra o recém­‑lançado Urgentes preparativos para o fim do mundo (Iluminuras, 2014), cujos treze contos apresentam alto nível de artesania. O que imediatamente há de comum entre eles é o interesse do narrador em primeira pessoa, cujo caráter ou corpo é frágil (os vários velhos), confinado (os prisioneiros, a puta, o tímido) ou defeituoso (o anão, o descamado, a que deveria ser virgem, o corcunda etc.). Esses defeitos do corpo e do caráter em geral se associam à lembrança de uma vida anódina ou fracassada, especialmente em termos de afetos familiares, a qual se encontra em vias de terminar. Por isso mesmo, predomina nas personagens certo afeto melancólico: uma tristeza pesarosa que repassa a existência, mas sem revolta, com resignação até. Poderia predominar o patético, o que por vezes ocorre, não fossem dois process

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