Coordenadas de uma estética: cinema e ditadura
Terra em transe, de Glauber Rocha, 1967 (Foto: Divulgação)
Inserido na constelação do moderno, o cinema brasileiro, do final da década de 1950 até meados dos anos 1970, delineou um percurso paralelo à experiência das vanguardas europeias e latino-americanas. Foi um caminho marcado pelo debate em torno do nacional-popular e da problemática do realismo crítico, sobretudo enquanto balizado pela noção de autor terceiro-mundista. Ao longo dessa sua trajetória, o cinema nacional deparou-se com discussões em torno de estratégias estéticas para politização do cinema, o debate entre uma linguagem didática e convencional e uma estética de experimentação e estranhamento.
Neste sobrevoo circunscrito no período do pré-64 até o fechamento completo da ditadura em 1968, busco analisar a resposta de diferentes autores cinematográficos. O que sobressai é a narrativa de um colapso que tem no ano de 1964 uma cisão definidora.
Com o decreto do AI-5, o fluxo do experimentalismo de desarranjos estéticos é interrompido, colocando em xeque as duas teleologias que nortearam até então o cinema político: a do projeto de emancipação nacional e a do programa das vanguardas estéticas. Tal interrupção evidenciou a desestabilização da arte enquanto dispositivo capaz de abalar a ordem social, e, junto a esse processo, produziu uma revisão do papel do intelectual que agora passa a desconfiar de seus referenciais de saber. O que implicará uma mudança no próprio status do artista de esquerda: em vez de se posicionarem como intelectuais onipotentes, munidos de certezas políticas e mergulhados na projeção es
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