Comentadores
“Então: A ou B? E por que não A e B? Onde está escrito que 'ou' deve ganhar sempre de 'e'?” (Reprodução)
A — Hegel diz X,Y,Z!
B — Sério!? E onde Hegel diz isso?
A — Li no livro do Žižek, O mais sublime dos histéricos.
B — Ah, mas então você leu Žižek, não Hegel!
E terminamos com um desapontado B, às voltas com um Hegel duas vezes perdido. E um desapontado A, cuja boa nova decaída pela desqualificação não é sequer considerada. O que poderíamos comentar sobre tal diálogo?
Dizem por aí que escolher um lado facilita a compreensão. Assim, obedientes e respeitosos das opiniões alheias, pensamos que, caso do lado do Senhor A, alegaríamos que obviamente Žižek leu Hegel. Opinião compartilhada por B. Não pela bibliografia referida no índice, que pode ser meramente transcrita sem se ter aberto um único volume. Mas, por ter reconhecido sua própria leitura de A fenomenologia do espírito no livro de Žižek (ou seja, B também tinha lido o comentarista em questão!).
O Senhor A, portanto, confia na autoridade do comentador a respeito do comentado. O Senhor B, não, ele precisa beber direto da fonte.
“E Lacan?”, perguntamos. “Será que Lacan leu Hegel?”
Neste caso, a resposta não parece em nada evidente! Em primeiro lugar, porque as referências de leitura do próprio psicanalista francês foram intencionalmente escondidas pelo editor oficial de O Seminário para a editora francesa Seuil. E, em segundo lugar, porque sabemos que o mestre fez gato e sapato daqueles que leu.
Como a historiadora Elisabeth Roudinesco (uma comentadora?) conta que Lacan tinha estudado Hegel com Kojève, o Senhor B foi atrás de A dialética do senhor e
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