Com trilhas de filmes, Roberto Minczuk quer trazer novos públicos ao Municipal de SP
Roberto Minczuk, diretor musical e maestro titular do Theatro Municipal de São Paulo (Divulgação)
Entre julho e agosto, mais de dez mil pessoas passaram pelo Theatro Municipal de São Paulo para assistir às 12 apresentações da série Kubrick em Concerto e Tributo a John Williams. Os espetáculos, idealizados na gestão de Roberto Minczuk à frente da direção musical do Municipal, apontam para o que o maestro afirma ser um dos principais objetivos da administração atual: aproximar a música clássica de quem talvez nunca tenha ouvido (e visto) uma orquestra sinfônica ao vivo.
Minczuk se entusiasma ao falar dos projetos. “Esses compositores que escrevem trilhas de cinema aprenderam com os grandes mestres da música clássica, Tchaikovsky, Stravinsky, Wagner. Antes de haver cinema o que chegava mais próximo de uma produção hollywoodiana eram as óperas”, afirma. “Fazer música de cinema em sala de concerto é essencial porque ajuda as pessoas a se darem conta de que elas gostam de música clássica.”
Nos oito concertos dedicados a Kubrick, a Orquestra Sinfônica de São Paulo executou as trilhas de 2001: Uma odisseia no espaço, Barry Lyndon e Laranja mecânica – em alguns momentos em sincronia com as cenas dos filmes. “Funcionou esplendidamente bem”, diz o maestro, que durante dez anos esteve à frente da Orquestra Sinfônica Brasileira, com sede no Rio de Janeiro. De fato funcionou: os ingressos, que custavam entre R$10 e R$100, esgotaram-se para todas as apresentações de ambas as séries (sendo que a capacidade da sala é de 1.500 lugares)
No tributo a John Williams, um dos mais importantes compositores da história do cinema, o que se ouvia eram músicas tema de Star Wars, Indiana Jones, Tubarão, A lista de Schindler e Harry Potter e a pedra filosofal. Ao final de cada espetáculo, a orquestra repetia um trecho do concerto para que o público pudesse registrá-lo em foto ou vídeo – incentivando que compartilhassem o conteúdo com a hashtag #BisNoMunicipal (que aparece quase cinco mil vezes no Instagram).
Entre uma composição e outra, o maestro interage com o público, explica o contexto das peças e comenta casos curiosos como por exemplo a duradoura parceria entre John Williams e Steven Spielberg, iniciada em 1974 com The sugarland express. Ele faz o mesmo em todos as apresentações da série dominical Concertos Informais – também criada em sua gestão -, quando inclusive chama pessoas da plateia para subirem ao palco.
“São gerações que passam a conhecer de perto uma orquestra sinfônica com o Theatro Municipal e se interessam”, justifica. “Isso trouxe muita gente que nunca havia pisado no Municipal, gente que nunca ouviu uma orquestra sinfônica ao vivo e ouviu pela primeira vez, gostou e voltou para outros concertos. Muitos dos que vieram ver Nabucco, por exemplo, nunca tinham ouvido uma ópera antes.”
Diretor artístico e regente titular da Filarmônica de Calgary, no Canadá, desde 2006, Minczuk assumiu a direção musical do Theatro Municipal de São Paulo no início deste ano a convite do secretário de Cultura André Sturm. Junto de Cleber Papa, diretor artístico do Municipal, compõe a gestão subsequente à de John Neschling, afastado em setembro de 2016 por suspeitas de envolvimento em desvio de verbas da Fundação Theatro Municipal. Minczuk não quis comentar o caso.
O maestro planeja criar espetáculos semelhantes com base no cinema italiano e brasileiro. A prioridade, diz, é “fazer uma programação de qualidade, inovando no formato e criando novos públicos”. Para 2018, o orçamento previsto para a instituição, que também administra escolas de dança e música, é de R$140 milhões (em 2017 foi de R$123 mi). “O Municipal é um patrimônio que as pessoas não têm que ter medo de entrar”, afirma Minczuk. “Orquestra sinfônica não precisa ser entendida, não precisa saber o que é para gostar. Vale a pena conhecer e ter esse contato para quebrar o gelo.”