Christian Bobin: “A presença pura”

Christian Bobin: “A presença pura”
O escritor francês Christian Bobin (Foto C. Hélie, editora Gallimard / Divulgação)
  Há uma vertente mística, minoritária mas importante, que atravessa a história da literatura ocidental, da qual Christian Bobin talvez seja um dos representantes mais ativos na cena contemporânea. Essa (contra)corrente inclui nomes como Angelus Silesius, Sor Juana Inés de La Cruz, Emily Dickinson, Rainer Maria Rilke, Murilo Mendes, Guimarães Rosa, Adélia Prado, entre tantos. Não fossem eles dotados de um incomum poder de expressão e do domínio das técnicas literárias de seu tempo, é provável que ficassem alijados do mainstream da literatura. Ou de uma ideia de literatura que se fortaleceu desde o século 18, marcada por posições anticlericais e ateístas, as quais encontram suas bases no racionalismo, na filosofia do Iluminismo, e, por fim, nas posições antirreligiosas de Marx e de Nietzsche. Para essa literatura, que, segundo as palavras do jovem Lukács, se “desenraizou da transcendência”, estamos lançados no caos da matéria (histórica), tanto para sorver até a última gota da breve existência como para alavancar um processo histórico de superação das desigualdades sociais e políticas. Vivendo na espessura da matéria, e esperando uma redenção política, que sempre tarda a vir, o escritor se alista ao exército dos céticos, e não por acaso escreve com a “pena da galhofa e a tinta da melancolia”, como confessava Brás Cubas. A prosa (ou poesia) de Bobin, no entanto, usa de tintas mais claras; e busca, na galhofa, uma migalha de alegria. Seu princípio não é a negação – atitude cara ao ceticismo moderno – mas a crenç

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