Choque ou diálogo de culturas?
Eugène Delacroix, Mulheres de Argel em seu apartamento, 1834 (Arte Revista Cult)
Diante das contradições que hoje opõem os mundos árabe-muçulmano e ocidental, uma questão se põe de modo lancinante: é bom caucionar a tese do choque de culturas? A humanidade costuma optar ou pelo choque ou pelo diálogo ou pela indiferença. Para que refletir sobre uma problemática tão antiga quanto a humanidade? O choque não seria uma opção “natural”? Não é inevitável que uma parte da humanidade seja identificada como causa de conflitos e visada como inimiga a ser abatida ou corrigida?
Essa tese é defendida pelo economista norte-americano Samuel Huntington, principalmente em seu livro O choque das civilizações. Em linhas gerais, no seu dizer, se o choque é inevitável é porque o Ocidente se vê confrontado com um mundo árabe-muçulmano heterogêneo, xenófobo, intolerante, subdesenvolvido e antidemocrático. Em que tal ponto de vista pode ajudar a melhorar a humanidade? Não termina ele, antes, por levar ao cegamento e ao caos? Não esqueçamos que, por trás das duas guerras mundiais, encontra-se esse gênero de ideias dogmáticas, nascidas no século 19.
A tese de Huntington, digamos claramente, visa justificar, por antecipação, uma política de dominação do mundo por uma única e mesma potência. Ela legitima o medo de um choque mundial e, por isso mesmo, exige uma reflexão sobre as condições de possibilidade de um diálogo salutar. Nós somos, por assim dizer, chamados a refletir não para polemizar, mas por responsabilidade histórica e sobretudo pelo dever perante a memória e as conquistas das civilizações. Afinal
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