Cenas literárias

Cenas literárias

Jaqueline Gutierres

“O cinema tem muita força ao mostrar uma história. A adaptação de um livro pode conduzir uma leitura e também criar novos leitores”, afirmou o cineasta Nelson Pereira dos Santos, durante o painel “Como o cinema e a TV reescrevem a literatura”. Além de Pereira, os cineastas Guel Arraes e Tuzuka Yamasaki participaram da conversa, mediada pelo jornalista Alexandre Figueroa. O encontro foi repleto de histórias engraçadas sobre suas experiências de filmagem.

Pereira, com completos 83 anos, era o mais descontraído, chegou a falar, “me dêem licença, mas preciso fazer uma piada”. Destacou os percalços nas gravações de Vidas Secas, adaptação do romance homônimo de Graciliano Ramos. “Fui à Bahia, porque havia visto a seca pela primeira vez lá. Quando cheguei a Juazeiro, caiu a maior chuva do mundo, e inundou a cidade.” Saindo da Bahia, Pereira foi para a fazenda de familiares de Graciliano, em Palmeira dos Índios, Alagoas. “Lá não chovia tanto, só do lado direito da estranha, do esquerdo não. Gravávamos as cenas da seca de um lado e as da vegetação do outro. Eu estou exagerando, mas foi mais ou menos assim.”

Ainda sobre Vidas Secas, Pereira contou uma situação envolvendo a cachorra Baleia, personagem da história. Quando foi ao Festival de Cannes, na França, uma senhora, vinculada a uma instituição de proteção aos animais, afirmou que a cachorra teria sido morta durante as gravações. “Eu dizia que não, ela continuava dizendo que sim. Tiveram que levar a Baleia até Cannes. Quando ela chegou, a mulher disse que ainda não acreditava, para ela os cachorros ‘vira-lata’ eram todos iguais.”,

Pereira ainda falou sobre suas preferências de adaptação, “os autores que colaboraram para a minha formação humanista eram todos no século XIX. Machado de Assis, Castro Alves, o próprio Graciliano Ramos, que nasceu no final do século, e Jorge Amado, que é do começo do XX”. Tizuka Yamasaki comentou, dizendo que Pereira é muito corajoso por trabalhar com grandes clássicos, como os que citou. “Às vezes, um bom livro não se torna um bom filme, e adaptar o supra-sumo da literatura brasileira, como Nelson faz, é se abrir a criticas, como a famosa: ‘o livro era bem melhor’. Eu sou covarde quanto a isso.”

Guel Arraes complementou dizendo que para uma boa adaptação é preciso mudar a relação que se tem com o autor do livro. “Quando você perde a reverência ao escritor, ganha intimidade e autonomia com a obra”. Pereira ressaltou ainda um grande desafio: “a obrigação do adaptador é provocar no espectador as mesmas emoções que o leitor tem ao ler”.

(1) Comentário

  1. QUERO EM PRIMEIRO LUGAR PARABENIZAR ESTA REVISTA CULT,QUE VEIO ENRIQUECER MEU ACERVO,DEPOIS QUE RECEBI ESTA REVISTA TENHO PERCEBIDO QUE AUMENTOU A FREQUECIA NA BIBLIOTECA E ISSO NOS DEIXA MUITO AGRADECIDOS PELO O ENVIO.DESEJO MUITO SUCESSO A TODOS QUE FAZEM ESTA MARAVILHOSA REVISTA,ABRAÇOS.
    COORDENADORA DE BIBLIOTECA PÚBLICA MUNICIPAL MARECHAL CÂNDIDO RONDON.

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