Leia trechos inéditos em português de cartas entre Camus e Casàres
Camus e Maria Casarès em 1948, Paris, rua de Vaugirard, 148 (Foto: ©Collection Catherine Camus)
O “Dia D” de Camus e Maria Casarès: Em 1949, às vésperas do retorno de Camus após dois meses de viagem pela América do Sul, os dois amantes trocam cartas que evocam a data em que começou seu relacionamento – dia do desembarque dos Aliados na Normandia – e a separação de quatro anos após o fim da Segunda Guerra.
Maria Casarès a Albert Camus, 16 de agosto de 1949
Antes da sua chegada, antes do nosso reencontro, antes de dar início à vida que nos aguarda — tão árdua e tão doce ao mesmo tempo —, eu queria, meu querido, deixar para trás os momentos terríveis de cegueira e loucura que, por minha culpa, vivemos antes da sua partida. Para isso, meu querido, vou tentar me explicar uma última vez, esperando de coração que depois nunca mas precisemos voltar a falar disso.
Isso vem de muito longe, do início da minha vida, talvez, mas eu não temo nada, vou lhe dizer apenas o essencial, o que nos diz respeito. Quando o conheci, soube que poderia amá-lo. A vida e minha juventude nos separaram.
Durante muito tempo, pouco consciente da minha loucura, tentei encontrar o que chamava de “meu absoluto” em outros lugares. E o busquei com tanta obstinação, tanta teimosia, que achei que o tinha encontrado. Um belo dia, enxerguei com clareza. Rompi com tudo e me entreguei a uma espécie de desespero que nem tentei aprofundar por falta de gosto ou de tempo.
Sim; meu querido, antes de voltarmos a nos ver, muitas coisas morreram em mim e nada as substituiu antes da sua chegada. Eu não acreditava em mais nada e achava até
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